Um trompete para o Verdelho, um cavaquinho para o Viosinho, uma guitarra para a Touriga Nacional, uma pandeireta para a Baga e um xilofone para o Arinto. Na Adega Mayor, cada rótulo de um vinho monocasta representa um instrumento diferente, um “solista”, como lhe chama Carlos Rodrigues, o enólogo residente. “É como numa orquestra”, continua. “No seu conjunto, [os instrumentos] formam uma banda, mas também conseguem tocar sozinhos.”

O mesmo se passa com os vinhos. Se combinam num blend com várias castas, também podem brilhar a solo, num vinho que é a “expressão de uma só casta”, explica o enólogo, na casa há 12 anos. Essa tem sido, aliás, uma aposta da Adega Mayor há mais de uma década – antes mesmo de Carlos fazer parte da enologia. Primeiro com um monocasta de Touriga Nacional, depois com vinhos de castas mais “aventureiras”, pouco comuns no Alentejo. 

“São pequenas irreverências. Castas que são um bocadinho exóticas para o Alentejo, por exemplo, o Viosinho ou a Baga, mas que também são castas portuguesas em desuso ou um pouco esquecidas. Dá-nos algum gozo trabalhá-las e apresentar a nossa versão.”

A ideia não é competir com os vinhos das regiões de origem das castas, até porque cada terroir tem a sua identidade e isso seria injusto. “Não queremos equiparar o nosso Viosinho a um do Douro, ou a um Baga da Bairrada”, reforça Carlos. “Queremos é mostrar a nossa interpretação dessas castas, e isso tem funcionado.”

“Abre os Sentidos à Melodia” é a assinatura da gama de vinhos monocasta da Adega Mayor, por ser dedicada à música. Neste momento, tem no mercado sete solistas – Touriga Nacional Tinto, Touriga Nacional Rosé, Arinto, Merlot, Verdelho, Viosinho e Baga – e um maestro para dirigir este ensemble, um monocasta superior da uva Rabigato Branco. A analogia com a música ajuda a explicar o objetivo da linha que contraria a tendência nacional dos blends: dar protagonismo a uma só casta, como um solista de uma orquestra que “enche a sala”, nas palavras de Rita Nabeiro, CEO da Adega Mayor. 

De ano para ano, “não há uma casta fixa” para a gama, continua Carlos Rodrigues. “O que mostramos às pessoas é aquela que nesse ano se portou melhor, a que pode ser mais surpreendente para os consumidores.” 

Há algumas castas mais previsíveis e que já se tornaram “clássicos”. É o caso da Touriga Nacional e do Verdelho, com uma produção superior às restantes. “Temos um controlo apertado e um grande conhecimento [destas vinhas], portanto, funcionam quase sempre”, afirma o enólogo. Nas outras castas, a produção é mais limitada, com três mil a cinco mil litros por ano.

Normalmente, no fim da vindima, Carlos tem uma ideia das castas que irão resultar no ano seguinte. Em janeiro/fevereiro, recebe a confirmação. “Nesta altura, já temos uma noção muito grande do que tem potencial”, garante. Este ano, por exemplo, “há muito boas perspetivas” para um Arinto e para um Verdelho, no caso dos brancos, mas também para um Touriga Nacional e um Pinot Noir, nos tintos, este último “mais uma irreverência” da casa, considera.

As castas estrangeiras têm, aliás, marcado a gama, com lançamentos como um Viognier, um Sangiovese ou um Pinot Gris, menos comuns no Alentejo. “Temos uma coleção de castas bastante interessante”, afirma. Nas suas contas são quase 20 variedades – dez tintas, sete brancas e uma rosada, a Pinot Gris – nos cerca de 90 hectares de vinha da Adega Mayor. “Andamos, de há meia dúzia de anos para cá, a experimentar castas que no futuro podem ter interesse para o Alentejo, tendo em conta a temperatura e a falta de água, que é uma realidade”, diz.

Nas castas portuguesas, uma prioridade dessas explorações, a Baga foi uma das maiores surpresas no que diz respeito à adaptação ao clima alentejano. “É uma casta com muita personalidade, muito ligada à Bairrada e percebe-se que tem uma capacidade enorme de se adaptar ao calor que não aquele marítimo/interior”, explica. “Dá vinhos muito abertos e elegantes, com taninos salientes, uma coisa diferente.”

Nos tintos da gama monocasta, como o Baga, o estágio é feito em barrica velha, para embelezar, mas não “ofuscar as características do vinho”.  Já os brancos, raramente estagiam em madeira. “Queremos mostrar a casta pura e dura”, afirma Carlos. “E procuramos fazer as coisas muito claras.”

Outra das castas que mais o surpreendeu foi a Riesling, com um vinho da colheita de 2019 que estará à venda em breve. “É uma casta alemã, pouco divulgada em Portugal, que também se comportou de uma forma muito particular no Alentejo”, continua Carlos Rodrigues. 

De tal maneira que originou um vinho para ser incluído na gama de monocastas superior, a Maestro, para edições limitadas a 500 garrafas Magnum, a chefiar a orquestra de monocastas. Nos Maestros, a preocupação não passa pelo respeito pela pureza da casta e pelo ano de colheita.

“A enologia pode dar asas à imaginação. Podemos desconstruir a casta e criar um vinho totalmente fora da caixa.”

É o caso do Maestro Rabigato Branco, da colheita 2021, a 70 euros, o único disponível no site da Adega Mayor, lançado o ano passado. “Cada vez que temos um Maestro, temos a garantia de estar conectados com a música da vida e de a tocar com extrema precisão”, descreve Carlos Rodrigues. “O Rabigato é para ser desfrutado gota a gota, nota a nota, numa melodia ímpar.”