A Delta foi pioneira desde a primeira hora, trazendo para o mercado português produtos e formas de estar que Rui Nabeiro, o fundador da empresa, ia identificando em feiras que visitava no estrangeiro sempre que podia. “Vi muitas coisas no exterior que trouxe depois para cá. As ideias também nascem daí, de ver muitas coisas e falar com muita gente”, contou numa anterior edição da revista DDD. Passados 50 anos da fundação da empresa, em 1961, tornou-se uma prioridade investir na inovação para manter em alta a competitividade do grupo Nabeiro. E mais do que comprar inovação, importava começar a criá-la, imprimindo-a no tecido cultural do grupo Nabeiro.
O primeiro round
O MIND arrancou em 2012 pela mão de Rui Miguel Nabeiro e de Cláudia Figueira, Head of Innovation do Grupo Nabeiro. “Na altura, a inovação colaborativa era um tema que estava já em desenvolvimento nos EUA e nalguns países da Europa, mas ainda não se praticava corporativamente em Portugal”, recorda Cláudia. Mudar a forma de trabalhar dos mais de dois mil colaboradores do grupo à época (que nestes últimos dez anos praticamente duplicaram) era o desafio.
“Percebemos que tínhamos de desenhar um programa que pusesse toda a gente a pensar em inovação.” Assim, foi gizado um modelo de inovação descentralizado que permitia, através de uma plataforma online, que todos tivessem acesso ao processo de inovação.
O lançamento aconteceu num evento com pompa e circunstância na Microsoft Lisbon Experience. Para alcançar todas as camadas da empresa elegeram-se 40 diretores de unidades de negócio como embaixadores. Estes, por sua vez, ficaram responsáveis por contagiar as suas equipas com uma ideia ousada: de que 2000 cabeças pensam melhor do que meia dúzia.
Contudo, e contra todas as expectativas (e entusiasmo), o programa não teve sucesso. “Foi um ótimo fail para comprovar que, em contexto empresarial, a cultura come a estratégia ao pequeno-almoço.” É que além de nessa época a cultura de inovação não estar disseminada, a cultura de partilha e interação também era quase inexistente. E, por si só, uma plataforma online provou não ser o melhor meio para que os colaboradores iniciassem um processo exigente e pensassem de forma partilhada.
O segundo round
O MIND foi então redesenhado ao longo de ano e meio. “Reconstruímos tudo contando com o feedback de todos os que participaram, num processo de design thinking puro.” Resultou, e o que fez mais diferença foi o contacto presencial – os momentos-chave passaram a existir fisicamente, servindo o online como um complemento a esses encontros.
Criou-se então um programa que acompanha o processo de inovação de A a Z, começando com o lançamento de um desafio, num evento anual e presencial com as primeiras linhas da organização, e que depois se replica, em sessões de geração de ideias, com as segundas, terceiras, quartas linhas – até incluir todos os colaboradores. As melhores ideias passam à fase seguinte e são apresentadas a um comité de avaliação composto por membros da Diverge e da administração, que as reduzem a 10. Essas avançam para um período de validação, que conta com o empenho da Diverge mas também das equipas de trabalho compostas por diferentes perfis, além de quem deu as ideias originais. As equipas têm então seis meses para testar o novo produto ou serviço, ouvir o consumidor e recolher evidências no mercado para apurar se ali há ou não uma oportunidade de negócio.
Delta MIND Lab
O resultado do processo de validação é apresentado em pitch, no evento KING OF THE RING, que marca o final do programa Delta MIND Lab, com a presença da administração do Grupo Nabeiro e de centenas de colaboradores (e milhares via online). Nos primeiros anos o ambiente replicava o do concurso televisivo Shark Tank, com o aquário, os sofás, o tapete, tudo sem tirar nem pôr. Um ringue de boxe tem sido o palco nas últimas edições, com o microfone a cair do teto, a clássica campainha e grandes painéis com a pontuação.
“O formato do evento também é pensado como estímulo à competição de ideias e do pensamento divergente. O painel de jurados avalia e seleciona o modelo de negócio com maior potencial e escolhe a melhor do ano. Para a equipa vencedora, o prémio significa fazer as malas e, durante quatro dias, conhecer o ecossistema de inovação de uma capital europeia. No seguimento deste evento, a Diverge e a administração do grupo Nabeiro escolhem as ideias que serão aceleradas na fase seguinte. Até ver, todas as edições do programa originaram a aceleração de ideias – foi o caso de produtos alimentares como o Croffee, o Go Chill ou o Slow Coffee, além de cinco outras que chegarão em breve ao mercado.
Vitória por KO
A participação no modelo de inovação é de tal forma intensa que deixa rasto positivo não só nas marcas do grupo, que ganham com o desenvolvimento de produtos inovadores, como também nos participantes. “O MIND desbloqueou as pessoas e estabeleceu uma cultura de partilha”, garante Cláudia Figueira. “Hoje em dia formam-se equipas multidisciplinares por tudo e por nada, quando antigamente era difícil pôr pessoas a falarem umas com as outras”, o que acabou por se revelar importante para a mobilidade interna. Há quem tenha passado das operações fabris à inovação produtiva da mesma fábrica, quem tenha descoberto em si um marketeer ao longo de seis meses e até quem tenha deixado o emprego para criar um negócio próprio. A inovação não tem limites.
Inserido no MIND e dedicado aos novos colaboradores há ainda o MINDIN, um dos quatro programas de inovação cujo objetivo é dar as boas vindas aos recém-chegados. Os participantes são levados para um lugar inesperado, como uma cave, uma garagem ou armazém, onde é partilhado o Modelo de Inovação do Grupo e todas as inovações. É o momento de integração de cada novo colaborador no MIND.
Três produtos que nasceram das ideias de colaboradores
Croffee Trata-se de uma barra de cereais saudável e estimulante. Com a cafeína de um café expresso, tem apenas 85 quilocaloria e 3,8 gramas de açúcar.
Go Chill A bebida fria junta a energia do café à nutrição do leite ou da bebida de aveia. Existe em seis sabores diferentes, sempre em embalagens para levar.
Slow Coffee Cinco equipamentos diferentes de extração de café, divididos em duas formas de experiência distintas, Dripping e Pressing, para saborear lentamente o ato de beber café.