Volvidos oito anos, continuam a sair ducheses, babás e garibaldis. Os periquitos seguem a cantarolar no salão. E a esplanada mantém-se um porto de abrigo entre a azáfama da Praça de Londres e da Avenida Guerra Junqueiro. Está tudo como sempre, só que melhor.

Um marco

Fundada em 1946, a Mexicana foi, nos primeiros tempos, um importante ponto de encontro de artistas do surrealismo e neorrealismo português. Era também frequentado por arquitetos, como Jorge Ferreira Chaves, que tinha o seu ateliê ali perto e que em 1962 faria o projeto de reconversão da pastelaria, hoje considerado um marco na arquitetura moderna em Portugal.

 

Os periquitos da Mexicana

Ao lado do painel de Querubim Lapa persiste uma enorme gaiola a que se convencionou chamar passarinheiro. O espaço, com cerca de três metros quadrados e uma árvore dentro, abriga à volta de 20 periquitos. É assim desde sempre, com o chilrear e cantarolar dos passarinhos a proporcionar uma banda sonora especial aos fregueses.

 

Querubim Lapa

O painel de cerâmica em baixo-relevo “Sol Ardente da Mexicana”, do artista Querubim Lapa (1925–2016), é desde 1961 uma das imagens de marca da pastelaria. E assim continua, mesmo após as mais recentes obras de renovação do espaço, de 2015. O painel está na sala do fundo, entretanto convertida em espaço de refeições.

 

Monumental

Em 2014, a Mexicana foi considerada monumento de interesse público, devido “ao génio do respetivo criador, ao seu valor estético, técnico e material intrínseco, à sua conceção arquitetónica e urbanística, e à sua extensão e ao que nela se reflete o ponto de vista da memória coletiva”. Acrescentava o parecer que a pastelaria traduzia “exemplarmente a adaptação das linguagens internacionais e do organicismo típico da década de 1960 numa verdadeira obra total”.

 

Na hora do chá

É verdade que pode não ser fácil conseguir mesa na esplanada na hora do chá. Ainda bem, então, que o horário de funcionamento começa todos os dias às 7h e se estende até às 22h. Conseguindo lugar, é obrigatório provar os doces tradicionais que acompanham a história quase octogenária da Pastelaria Mexicana. “São os ducheses recheados, os garibaldis e os babás”, diz Luís Condeço, o orgulhoso gerente.

 

Museu vivo

As mesas e cadeiras da Pastelaria Mexicana ainda são as mesmas trazidas para este projeto pelo arquiteto Jorge Ferreira Chaves, entre 1961 e 1962. Com assinatura do designer industrial José Espinho (1915–1973), as cadeiras são confortáveis, bonitas, e verdadeiras peças de museu: tanto que quatro estão no MUDE – Museu do Design e da Moda, em Lisboa.