Tens um sentido de humor singular e um talento que sobressai em várias áreas. És mais conhecido enquanto apresentador de programas de rádio e de televisão, mas és também escritor, DJ, produtor de eventos, editor literário, empreendedor e impulsionador cultural. A cada novo projeto entregas-te como se fosse o primeiro, e o entusiasmo e a genuinidade transparecem para quem acompanha o teu percurso.

Que introdução tão bonita! Já alguém chorou nestas entrevistas?

 

Não, ainda não cheguei a esse ponto. Talvez sejas o primeiro…

Sabes que eu sei como é que o Daniel Oliveira coloca as pessoas a chorar, é muito fácil. Ele primeiro pesquisa e vê qual foi a pessoa mais próxima do entrevistado que morreu. E depois pergunta-lhe: “Então, gostava muito da sua irmãzinha, não é?” Começam logo a chorar. Assim também eu punha as pessoas a chorar. Mas comigo, não.

 

É difícil, nunca te vi chorar…

Não me lembro de chorar de tristeza, mas de alegria. A última vez que chorei muito foi com o golo do Éder, no Euro 2016. Se calhar, estava desequilibrado.

 

O que te faz chorar, além desse golo?

A morte de alguém de quem se gosta muito. Mas tenho tido uma sorte incrível porque, durante a minha vida, a morte nunca esteve perto. Às pessoas que me rodeiam – os meus pais, as minhas irmãs, os meus primos –, ainda não.

 

Mas um dia…

Vai acontecer. Por acaso tinha uma ideia de negócio, que era uma empresa que só fazia discursos fúnebres. Porque quando morre alguém, muitas vezes não estás preparado psicologicamente para escrever um discurso. Muitas vezes, nem estás preparado para o ler. Pode haver duas situações – a minha empresa pensaria em ambas. Escrevemos o discurso e, se o cliente quiser, vai lá um ator nosso ler o texto.

 

Epitáfios também incluídos?

Epitáfios, tudo.

 

O que gostavas que escrevessem no teu?

Gostava que na minha lápide dissesse: “Eu bem vos disse que isto ia acontecer.”

 

Na descrição do teu Instagram lê-se: Um ser admirável que tem por principal missão salvar o mundo.” Salvar de quê?

De tudo o que está a acontecer. Já na altura pensava desse modo e acho que os últimos anos agudizaram a gravidade e o desequilíbrio do mundo. Nunca a sociedade esteve tão polarizada. As redes sociais vieram agravar a forma como as pessoas reagem, como falam. As posições estão muito extremadas. Tenho saudades de ver um debate, de haver programas de televisão em que uma pessoa estava a favor e outra contra, e estava tudo bem. Não era preciso cancelar ou ostracizar alguém só por ter uma opinião diferente. Nas redes sociais, isso parece não ser admissível. Há uma espécie de caça às bruxas, mas agora, em vez de as deitar na fogueira, queimam-nas na mesma – é o chamado “queimanço” social: “esta pessoa é uma besta”, e aí fica.

Fernando Alvim e Rita Nabeiro

Começaste na rádio aos 13 anos e dizes que, a partir daí, só vias rádio à frente”. Mas se não fizesses rádio, o que te vias a fazer?

Gostava de ser guia turístico, mas não daqueles que fazem sempre o mesmo percurso. Aborrecia-me, que eu tenho défice de atenção e sou viciado em dopamina. Era guia turístico, mas todos os dias num país diferente.

 

A rádio continua a ser a tua principal paixão?

Tenho várias paixões, mas a rádio e a televisão são as maiores. À medida que entro na idade adulta – que acho que só está a acontecer agora…

 

Ainda não dei por isso…

Está a entrar, devagar. Sabes como percebi que podia estar a passar por uma espécie de crise? Apetece-me comprar um cabrio… Esse é o primeiro grande sinal, não é? É aquela bandeira vermelha gigante. Mas em relação à minha profissão… Rádio, televisão e eventos, desde que sejam disruptivos. Porque se eu fizer alguma coisa, a minha primeira intenção é acrescentar algo.

 

Disseste-me no outro dia, sobre a televisão e a rádio, que uma é o teu amor e a outra a tua amante.

A televisão é minha amante, mas é aquela amante que foge com o príncipe do Mónaco num cabrio, estás a ver a ideia? A rádio nunca deixa de estar comigo. E a televisão aparece de vez em quando. Agora tive um hiato de quatro anos. Vou regressar com um programa na rtp1, mas por iniciativa própria. Apresentei uma ideia minha e eles acharam graça e tal.

 

Queres falar sobre esse programa?

Chama-se Herói Nacional. É um programa que vai em busca de super-heróis, mas diferentes do que se esperaria. São pessoas que têm o superpoder de fazer rir. Não ando à procura de humoristas, mas daquelas pessoas que existem na nossa rua, na nossa vila, aldeia, que fazem rir as pessoas. Portugal está cheio de heróis e heroínas.

 

Encontraste gente gira?

Encontrei gente incrível. Acho que tenho um certo talento para criar uma relação de confiança com aquelas pessoas. É fundamental, seja em rádio ou em televisão, as pessoas confiarem em ti, para que possas tirar o melhor delas.

Eu sou um groupie do futuro. Não sou nada saudosista, é raríssimo veres-me falar sobre o passado. Sobretudo, acho que nunca disse na vida disse: “No meu tempo é que era bom.”

Nasceste em Vila Nova de Gaia e vives em Lisboa. Apesar de seres uma pessoa urbana, tens projetos nas partes mais remotas do país… De onde vem essa preocupação?

O facto de passar música fez com que me tornasse absolutamente itinerante. Conheço todas as cidades portuguesas. Houve um período de 10 a 15 anos em que passava música três vezes por semana – andava lindo, nessa altura!

 

Sentes que tens essa responsabilidade?

Sim, como também acho que toda a gente tem essa responsabilidade. É uma preocupação minha haver descentralização, porque não são só as cidades grandes que fazem um país. Isto não tem de ser só uma cena lírica… Gosto de pessoas muito práticas. Há duas características que são fundamentais. Uma – e tu tens isso – é estarem do lado da solução e muito raramente do lado do problema. A segunda – que é uma característica que me faz brilhar os olhos – é serem pessoas despachadas. Pessoas despachadas dão-me logo crazy eyes, sabes? Amo pessoas despachadas.

 

Como é que lidas com pessoas que não são despachadas?

Mal. É uma lentidão…

 

Há uns anos, recebeste o meu avô na Prova Oral, de auscultadores, atrás do microfone. Lembras-te de alguma coisa dessa entrevista?

Lembro-me de que lhe perguntei: “É verdade ou é mito que nunca despediu ninguém?” E ele respondeu-me: “Ah, já devo ter despedido, mas não vejo grande necessidade.” Adorei essa resposta e a forma franca e carinhosa dele. Não me lembro de um funeral em que tantas pessoas com tanto relevo e, sobretudo, que eu admiro, estivessem num espaço tão pequeno… Estava lá toda a gente. Embora fosse um empresário extraordinário, não foi essa a parte que as pessoas destacaram quando morreu. Foi justamente a parte humanitária. Acredito que essa é a parte de todos nós que as pessoas se vão recordar: se és um tipo que fez alguma coisa pelos outros ou não.

 

Como é que achas que as pessoas te vão lembrar?

Como alguém bastante criativo, acho que é essa a imagem que eu vendo.

 

E de alguém que é amigo do seu amigo…

Sim. Este ano, quando fiz 50 anos, algo aconteceu. A minha festa de aniversário foi muito comentada. Para mim, ver todos os meus amigos, perceber que havia uma ambiência… Foi perfeito, nem eu sabia que aquilo ia correr daquele modo. É curioso que foi a partir do meu aniversário que senti um boost nas minhas redes, nos convites, as coisas intensificaram-se muito. Será que é por ter 50 anos? Tipo homenagem?

 

Uma segunda vida, que estás a recomeçar agora?

Deve ser. Não sei se estou a recomeçar. Tenho tido uma vida boa. Mas sempre trabalhei muito, não sou uma dondoca: é boa porque trabalho imenso.

Perguntaste ao meu avô, nesse programa, se ele gostava do futuro. Faço-te a mesma pergunta.

Eu sou um groupie do futuro. Não sou nada saudosista, é raríssimo veres-me falar sobre o passado. Sobretudo, acho que nunca na vida disse: “No meu tempo é que era bom.”

 

Confere. E gostas de estar com malta mais nova.

Tenho uma cena vampiresca. Alimento-me de sangue novo. É uma imagem boa, não é? Quero sempre contrariar o processo natural das coisas – que muitas vezes é ires ao mesmo restaurante, pedires a mesma coisa, sentares-te na mesma mesa, teres os mesmos amigos. Eu quero não fazer isso nunca. Quero conservar os meus amigos, mas juntar novos. Quero ir ao restaurante, mas não pedir a mesma coisa. Quero ir a sítios novos. Comprar uma casa no Alentejo é muito da geração dos nossos pais… Para mim, não dá, porque depois vais ter de estar lá…

 

Mas tens amigos que têm casas.

É isso que eu quero, é muito melhor. É aquela história que toda a gente sabe: melhor do que ter um barco, é ter um amigo que tenha um barco. Isto dá para tudo. São os melhores amigos – é estimá-los!

 

Fui perguntar ao Chat GPT quem era o Fernando Alvim e pedi para responder de forma criativa. Respondeu: Se o Fernando Alvim fosse um prato típico português, seria um cozido à portuguesa com um toque de picante. Clássico, mas sempre com aquele sabor inesperado que nos faz levantar a sobrancelha.”

Ele é muito elogioso. O cozido à portuguesa é um dos meus pratos favoritos. Pertenço à Confraria do Cozido à Portuguesa, que começou por ser uma brincadeira, claro. Hoje em dia, acredito que estamos à frente da maçonaria portuguesa, porque aquilo é o maior grupo de influência a que alguma vez pertenci. É só pessoas muito influentes, não é qualquer um que aparece lá.

 

E o toque de picante?

Talvez seja a parte criativa. Gosto de ser um bom malandro também, de viver a vida, de tirar partido dela, dos seus prazeres. Acho que o tenho conseguido bem. O facto de não me ter casado tem-me ajudado imenso, não é?

 

É?

Então não é? Repara, ao não estares casado, não teres filhos e tal, não tens aquela vida mais certinha. Podes fazer muito mais coisas, tens muito mais liberdade. O modo de vida que eu tenho, tenho-o porque sou solteiro – até assim um bocado militante, embora, de vez em quando, amantize.

 

És solteiro por opção ou, se aparecesse o amor da tua vida…?

De vez em quando aparece.

 

Todas as semanas aparece um…

É verdade. Também não me posso queixar. Tive as minhas paixões, e vou tendo.

Pesquisando o teu nome no Google, as primeiras sugestões são Namorada, Filhos, Casado” e só depois Antena 3, Podcast, Livros”. A Cristina Ferreira perguntou-te sobre namoradas, a Tânia Ribas de Oliveira perguntou-te sobre namoradas…

“Então não se conhecem namoradas? O que é que se passa?”

 

Tu és o último solteiro…

O George Clooney casou-se com 54 anos. E o George Clooney tinha um porco em casa, coisa que eu não tenho!

 

Tu tens uma girafa.

Tenho uma girafa, mas é de pelúcia. Não é um porco a sério, como tinha o Clooney. 

 

É um ponto em comum. Achas que ainda poderás casar?

Acho que me poderei casar aos 70 anos, talvez aos 65. Mais 15 anos e caso-me. Até lá, vou continuar a ter esta vida boa que tenho. O que é que acham disto? Foi uma ideia que tive agora.

 

Já escreveste vários livros, muitos sobre amor e desamor, mais sobre amor.

Acredito mais no amor do que no desamor.

 

O que é que te leva a escrever?

Amar dá jeito para poder escrever sobre esse tema.

 

O que é que te levou a começar a escrever sobre o amor?

Tenho uma história curiosa sobre o amor. Tive uma namorada – depois vou dizer o nome dela, porque é público – que vi pela primeira vez numa revista social. Na Caras, uma coisa assim. Vi-a, fiquei doido e disse: “É a mulher mais bonita que alguma vez vi na vida. Mas quem é? Tenho de a conhecer.” Era filha de uma figura conhecida, que trabalhava num canal de televisão onde eu também trabalhava, o Canal de Notícias de Lisboa. Um dia, vou a uma discoteca e estava uma miúda incrível a dançar. Eu estava com uma amiga e disse-lhe: “Aquela miúda é a mais bonita que alguma vez vi .” E ela: “Então! Essa é a da revista!” Bem, eu não era capaz de ir falar, mas arranjei o e-mail dela. E comecei a escrever-lhe cartas de amor. Dia sim, dia não, mandava-lhe uma carta de amor, criativa e tal, sob um pseudónimo, Robin Woods, e do e-mail robinwoods@hotmail.com. Ela já me dizia: “Olha, eu não sei quem tu és, mas já és o meu primeiro gesto diário. Quando acordo, vou ao meu e-mail ver se me escreveste.” Um dia, eu, que tenho défice de atenção, enganei-me e enviei-lhe uma carta de amor do meu e-mail pessoal. E foi assim que fui descoberto. Quem era a pessoa? A Inês Castel-Branco, que depois foi minha namorada.

 

Correu bem.

Correu bem, por acaso. Quando ela descobriu, enviou e-mail a dizer: “Que surpresa. És tu. ‘Bora jantar hoje.” E eu respondi: “Não estou a acreditar, como é que me deixei apanhar desta maneira.” 

 

Mas ainda bem. Se calhar não terias coragem.

Sim. Fomos jantar e, nesse dia, combinámos que íamos namorar.

As pessoas estão muito crispadas. Às vezes interrogo-me de onde vem este ódio todo. Acho que temos de procurar, de forma coletiva, uma solução.

O que mudou na tua vida?

Sobretudo a forma como agora tenho consciência de que tenho défice de atenção e de perceber porque determinadas coisas me acontecem. Acho que todos crescemos a ouvir que muitas crianças tinham défice de atenção, mas a verdade é que muitos adultos também têm. Não imaginas a quantidade de pessoas que, semanalmente, me mandam mensagens. Ainda hoje, parece coincidência, uma pessoa que eu não conheço me convidou para ir almoçar, porque, depois de ver a minha entrevista no Labirinto, o programa do Observador, descobriu que também tinha défice de atenção. Já está a ser seguido e medicado, e diz que quer trocar ideias comigo. E eu vou almoçar com ele – porque não? Não é nada dramático, mas não sei o que teria sido se tivesse descoberto mais cedo que tenho défice de atenção. 

 

Na prática, o que mudou?

Na prática, é perceberes que podes estar muito mais focado. Diria que quase consigo identificar as pessoas que têm défice de atenção, é incrível. Inclusivamente estou a tentar criar um grupinho de pessoas conhecidas que têm défice de atenção e está a ser muito divertido. O grupo chama-se “Defs”.

 

Nunca se sabe o impacto que uma conversa pode ter em alguém. Tens alguma história desse estilo?

O Gustavo Jesus, o psiquiatra que me diagnosticou o défice de atenção, no outro dia disse-me que um paciente dele lhe disse que a cultura geral que tem é de ouvir a Prova Oral todos os dias. Isso é tão elogioso. A diversidade de convidados é tanta, que acho que eles acrescentam realmente todos os dias uma coisa nova. Enquanto apresentador de programa, olha só a sorte que tenho de ter inputs criativos que abrem completamente a minha mente. Quando a tua cabeça abre, acabas por ser menos conservador, mais tolerante, mais aberto a opiniões contrárias à tua. É fundamental irmos por este caminho. A grande maioria das pessoas não está a ir. Estão muito crispadas. Às vezes interrogo-me de onde vem todo este ódio. Há vidas piores do que outras, mas há pessoas que têm más vidas e que não estão com este ódio todo. Acho que temos de procurar, de forma coletiva, uma solução. Os que estão bem têm de ajudar os que estão mal.

 

Apesar de a rádio se manter um meio de comunicação vivo, há agora uma concorrência brutal dos podcasts. Como é que vês isso?

Os podcasts quase podiam chamar-se podcasts piratas. É um meio muito democrático porque é barato e dá para te exprimires e seres criativo. Qualquer pessoa pode ter um podcast – às vezes diz-se isto no sentido depreciativo, mas digo-o como um elogio. Que bom que é! À custa dos podcasts, vamos descobrindo cada vez mais talentos e pessoas que, de outro modo, estariam sempre subjugadas à sábia opinião dos diretores das rádios, das televisões, dos jornais. A quantidade de pessoas com talento que enchem coliseus sucessivos e que não vão à televisão nem à rádio – só internet, podcasts e tal – é incrível.

 

Se tivesses outro programa, além da Prova Oral…

Vou ter um novo podcast com a Inês Maria Meneses. É minha amiga e há muito tempo que vínhamos namorando essa ideia.

 

Já tem nome?

Sim, vai-se chamar Problema. “Bem-vindos a mais um problema.” Acho que vai ser muito divertido.

 

Qual era a pessoa que gostavas de ter no teu programa?

O [Barack] Obama, o Pedro Almodóvar, o Woody Allen, o Chuck Norris, são muitos.

 

O que é que perguntavas ao Obama?

Teria de pensar muito. Há uma pergunta que faço sempre no final do programa, que é muito genérica, e que fiz ao teu avô, que é: “O que é que a vida te ensinou?”. Não ia tratar o Obama por tu. É uma pergunta difícil. Haveria muitas outras coisas que lhe perguntaria. Se gosta de cozinhar, o que é que sabe fazer bem, que prazeres tem… Uma coisa que gosto muito de perguntar é se os convidados têm irmãos, o que fazem e como são. As respostas são sempre muito entusiastas.

Não conheço ninguém que tenha tantas ideias por hora como tu.

Devia estar milionário, não é?

 

Sim, devias.

Tenho esta casa porque foi o meu pai que ma deu. Imagina se ele não me desse esta casa, isto ia ser miserável.

 

O teu cérebro está sempre a disparar.

Está. Pensei que, à medida que fosse envelhecendo, as ideias forçosamente iriam diminuir, e isso não está a acontecer. Tenho cada vez mais ideias. Em viagens de avião, é uma loucura, tenho muitas! Aviões, comboios, no banho… A minha casa de banho tem post-its e um lápis, para eu apontar. Já me aconteceu parar a mota para apontar uma ideia que estou a ter.

 

Qual foi a última grande ideia que tiveste?

Uma empresa que, antes de comprares uma casa, inspecionava os teus vizinhos, para ver se a devias comprar. Chamava-se Next Door. Antes de comprares o apartamento, iam-te dizer: “Olha que o teu vizinho de cima vai dar cabo de ti muito rapidamente. Já houve aqui sarilho.” Seria uma empresa útil.

 

Também tinhas uma ideia de um concurso de pratos…

Essa foi a última ideia que tive! Vamos fazer uma cerimónia de prémios diferente do habitual. Até agora, o que existia eram prémios de chefs, estrelas Michelin, essas coisas todas muito credíveis. Achei que devia fazer uma cerimónia de prémios só sobre os pratos. Vai chamar-se Pratos Bravos. Vamos ter cinco nomeados, com categorias diversas como Melhor Bifana do Ano, Melhor Arroz de Pato do Ano.

 

A seguir tens de ter comida, não?

Claro. É um evento para revelar talento, informar, promover e depois festejar. Como? Comendo muitas coisas que estavam ali nomeadas.

Só o entusiasmo que colocas na forma como vendes as ideias… As pessoas já ta compraram!

Não estou a ver nada. 

 

Ou achas que é ao contrário? As pessoas às vezes não te levam a sério?

Acho que é mais essa.

 

Isso chateia-te?

Às vezes chateia-me. Em 50 anos de existência, nunca fui convidado para ser diretor do que quer que seja, nenhum cargo de responsabilidade, zero. Acho que as pessoas criativas têm esse rótulo: é maluco, poderá ser irresponsável, não vai chegar a horas, possivelmente vai incendiar o escritório. Tu vês que aqueles que chegam a cargos de liderança – nem todos – são um completo vazio a nível ideológico, criativo, até de gestão social. Pessoas que não gostam de pessoas mas gerem pessoas – mas como? Já fui gerido por algumas e é muito triste. Acho que o futebol pode explicar tudo na vida: basta um treinador sair de uma equipa e ela rui, porque era um treinador especial. Um líder é absolutamente essencial numa equipa e, quanto melhores forem os líderes, melhores serão as equipas. Uma vez entrevistei uma gestora de líderes, Odete Fachada, que me perguntou: “Quanto acha que valem as pessoas com quem trabalha, de zero a dez?” E eu respondi: “Oito.” Ela disse-me: “É isso que você vale enquanto líder.” Acho que é isso mesmo. As pessoas que trabalham contigo traduzem o que vales. Fiquei a pensar nisso e quero ser um líder de nível dez.

 

Vou fazer-te a pergunta que farias ao Obama. O que é que a vida te ensinou?

Ensinou-me a não ser demasiado intempestivo nas minhas reações.  Qualquer coisa, virava-me do avesso e reagia muito ferozmente. Esse terá sido um dos meus grandes defeitos, naquele período entre os 25 e os 35, em que estás convencido de que tudo te ofende. Tomei algumas atitudes que hoje em dia não teria tomado. Nunca usei muito a estratégia, nunca fui muito esquemático. Acho que sou uma pessoa melhor. A idade adulta está a fazer-me bem.

 

Concordo. É uma boa maneira de fecharmos.

Não chorei.

 

Vamos lá buscar as cebolas.