Dependendo da década em discussão, falar de inovação numa empresa como a Delta pode levar a diferentes conversas. Em anos recentes, significa falar da Rise Delta Q with Starck, com o seu – lá está – inovador sistema de extração de café invertido. Também significa falar, por exemplo, da Diverge, o Centro de Inovação do Grupo Nabeiro que desenvolveu esse e muitos outros produtos com que a Delta tem surpreendido o mercado.
Acontece que a cultura de inovação não é de agora. Está presente na Delta desde o início, há mais de 60 anos. Está inscrita no seu ADN desde que, em 1961, Rui Nabeiro criou uma empresa que foi pioneira na forma como se impôs no mercado do café consumido em restaurantes, hotéis e pastelarias. Se a concorrência não dava crédito aos clientes, ele dava – e aos melhores, a certa altura, passou até a oferecer um grão de ouro por cada compra superior a 100 quilos.
Outro exemplo. A 1 de maio de 1969 são inauguradas 20 moradias construídas para alojar os funcionários da Delta e as suas famílias. Numa época em que ainda não se falava em responsabilidade social, Rui Nabeiro inovou ao premiar aqueles cuja dedicação à empresa merece ser distinguida, cofinanciando a construção de modo a garantir prestações mensais mais baixas aos seus trabalhadores.
“Rui Nabeiro era a prova viva do que é ser-se inovador e criativo”, considera Cristina Amaro, autora e rosto do programa Imagens de Marca, na SIC. Cristina conheceu o fundador da Delta em 1998, era ela jornalista na revista Exame. “Ele tem – tinha – essa vontade de fazer sempre mais e melhor. Criar novas abordagens, novos caminhos, novas relações com os clientes. A própria forma como toda a vida se relacionou com as pessoas que trabalham no grupo: ele foi mesmo pioneiro nisso. Foi um verdadeiro Chief Love Officer.”
A Delta Q nasceu em 2007 e assinala a entrada triunfante da marca no mercado competitivo do café em cápsulas.
Em 1998, já Rui Nabeiro tinha construído o primeiro hospital de máquinas de café do país, a Tecnidelta. Enquanto divisão da empresa, esta surgiu em meados dos anos 80, numa altura em que as equipas comerciais da Delta perceberam que alguns clientes não conseguiam tirar café em condições. “Eles devolveram os lotes, mas o problema era das máquinas”, recorda Rui Lagarto, o homem recrutado por Rui Nabeiro para montar a operação de assistência técnica.
A unidade foi crescendo em recursos humanos e importância dentro da empresa. De tal forma que, em 1993, foi inaugurado em Campo Maior o primeiro polo dedicado à Tecnidelta, onde as máquinas chegam, são diagnosticadas e curadas das suas maleitas num curto espaço de tempo.
“A Delta, nessa altura, era uma marca essencialmente de café fora de casa. Presente no ponto de venda do canal Horeca muito mais do que no consumo para casa. Era uma marca presente nos cafés. De eu ir ao café”, diz Cristina sobre uma empresa que se soube reinventar e entrar em casa dos portugueses ao lançar o café em cápsulas da Delta Q, em 2007, depois de dois anos de desenvolvimento. A história tem início num almoço de celebração dos 223 anos do restaurante Martinho da Arcada, a que Rui Nabeiro foi com o neto Rui Miguel. “Passaram o almoço todo a chatear o meu avô porque a Delta não tinha cápsulas [que começavam a estar na moda]”, recorda o atual ceo do Grupo Nabeiro. “Ele ficou furioso. Na viagem de volta, dava murros no tabliê do carro. Eu disse-lhe: ‘Vamos fazer as cápsulas. Eu pego nesse assunto’.”
Rui Nabeiro e o neto, Rui Miguel, com os donos do Café-Restaurante Martinho da Arcada, António Marcos de Sousa e Maria Adília de Sousa, em 2005.
“Claro que foi a outra geração [a dos netos], mas só um homem que sempre procurou a inovação possibilitaria à marca seguir esse caminho”, afirma Cristina Amaro. “Ele acompanhou essa transformação profunda, enorme, que atravessa fronteiras. Hoje vemos a Delta a exportar conceitos para outros mercados que depois chegam ao nosso.
A 19 de abril, quando se assinalava exatamente um mês desde o desaparecimento de Rui Nabeiro, foi apresentada a novidade a que Cristina se refere. A Delta Espresso é um conceito de loja criado para o mercado brasileiro, onde já está presente com muitos pontos de venda. “Tem uma imagem jovem, alegre e vem com uma expressão – ‘vou ali beber um expresso’ – que se tornou um sucesso.” Tanto que, depois de o exportar, a Delta trouxe o conceito para Portugal.
“Não é por acaso que a Delta é uma love brand que está a sair de portas e a levar Portugal ao mundo”, acrescenta a criadora do Imagens de Marca. “E isso deve-se ao carácter inovador do seu fundador.”