O resultado é um vinho de edição limitada, que surge com três rótulos diferentes. Um vinho que merece ser, além de bebido, colecionado.

As celebrações do centenário do nascimento de Amália Rodrigues têm tomado as formas mais diversas: de exposições a concertos, programas de televisão ou missas religiosas, passando ainda por uma variedade de peças comemorativas, como o relógio Tissot, os selos comemorativos CTT, as joias Ouronor ou as malas de senhora Âme Moi. A esta grande festa faltava juntar-se a Adega Mayor que, claro está, trouxe um vinho para a mesa.

É um vinho leve, jovem, que conta com um suave aroma a frutos vermelhos frescos. E embora seja tão fácil de beber como de entender, engana quem for apanhado distraído: é que, como Amália, este vinho não é um só. Apesar de ser sempre o mesmo, surge com três rótulos diferentes, “cada um deles a homenagear de uma forma muito própria uma das múltiplas facetas de Amália”, como explica Pedro Foles, diretor de marketing da Adega Mayor. 

Antes de ser fadista, Amália foi bordadeira, operária e vendedora de fruta. Já enquanto ícone do fado, foi também atriz e ativista. Amália foi livre, humanista e visionária – e é esta multiplicidade de facetas que a Adega Mayor decidiu celebrar, convidando três artistas a ilustrá-la em três rótulos para o mesmo vinho.

Amália Visionária por João Fazenda

 

Não foi a primeira vez que este ilustrador de 41 anos, colaborador regular da imprensa nacional e estrangeira – do Público ao New York Times – mergulhou no universo de Amália, que considera “extenso e muito rico”. Fazenda tinha-a desenhado no passado para a capa de um disco e, há coisa de um ano, para um livro infantil sobre a vida da fadista. Mas o desafio de dar vida ao lado mais visionário de Amália foi inédito. “A minha pesquisa foi feita de dois ângulos diferentes. Por um lado, procurei o lado visionário mais estético, que se vê na Amália dos anos 70, com roupas e cortes de cabelo ousados. Por outro, procurei esse vanguardismo na sua obra, naquilo que ela criou de novo na música.” O resultado é uma imagem com uma uma paleta de cores e uma composição irreverentes. “Ilustrei uma Amália que, a partir de Lisboa, olhou para fora. Ela cantou a sua cidade ao mundo.”

Amália Humanista por Tiago Albuquerque

 

Desenhar Amália não foi novidade para Tiago Albuquerque, 38 anos, ou não tivesse ele ilustrado já este ano um livro infantil sobre a diva do fado, escrito por outra fadista, esta dos nossos tempos, Carminho. O desafio que este artista multifacetado – além de ilustrador, também é designer, músico e realizador de filmes de animação – encontrou neste convite foi outro: o de desconstruir uma figura que desenhou tantas vezes e dar-lhe uma nova vida. “Andei uns bons dias a pensar o que havia de fazer”, confessa Tiago. No final, acabou por trocar as ferramentas digitais pelas manuais e utilizar caneta e aguarelas – “uma coisa praticamente inédita” no seu percurso – e com elas criou um retrato que descreve como “descontraído, abstrato e algo geométrico”.

Amália Livre por Sara Feio

 

Licenciada em ilustração pela London College of Communication, Sara Feio, de 35 anos, dedica-se à criação visual, mas também à produção e direção artística em artes performativas. Tendo ela própria várias facetas, foi com entusiasmo que recebeu o convite para dar forma ao lado mais livre de Amália. “Mergulhei numa grande pesquisa, li muito e vi muitos documentários. Mas foi nas músicas de Amália que encontrei inspiração”, conta. Asa de Vento, Amor Sem Casa, As Penas ou Meu Amor, Meu Amor são apenas algumas das canções em que Amália canta sobre pássaros como símbolos de liberdade. “E foi essa ideia de que gostei: a de que a liberdade pode ser interior, pode ser uma noção que está apenas dentro da nossa cabeça.”