Com a chegada dos dias quentes, o café desdobra-se em novas personalidades. Servido frio é cocktail, é refresco e chega até a ser sobremesa. 

Espresso Martini

Foi uma interação de repercussões sérias. No final da década de 1980, uma famosa supermodelo sentava-se na Soho Brasserie com uma dupla necessidade. “Quero uma bebida que me lixe e que me acorde”, terá pedido a Dick Bradsell. Instintivamente, o pai da mixologia moderna juntou vodka, um café expresso, licor de café e um pouco de açúcar. A identidade da modelo nunca foi revelada pelo bartender (sabe-se que seria da turma de Cindy Crawford, Claudia Schiffer, Kate Moss ou Naomi Campbell), mas a invenção ficou para sempre. Naquele dia, em Londres, nascia o primeiro Espresso Martini.

Três décadas corridas, a invenção de Bradsell, a que primeiro se deu o nome de Vodka Espresso, continua a ser um sucesso, garante Fernão Gonçalves, chef de bar executivo do grupo de restauração Plateform (restaurantes Brilhante, Tapisco, Honorato, entre muitos outros). Um clássico já muitíssimo bem instituído, cuja popularidade se pode explicar pela versatilidade, e que, destaca o mixologista, se adequa a qualquer estação do ano e momento do dia: reconforta no inverno e refresca no verão. “Podemos pedir a meio da tarde, antes do jantar, mas também substitui o café no final da refeição, por ser um power-up”.

E não se deixe enganar pelo nome: em comum com o Dry Martini este cocktail tem apenas o famoso copo de pé alto em forma de “V”. E, mesmo assim, cada vez menos. Fernão Gonçalves, por exemplo, prefere usar um coupette, no dia em que o vemos preparar o cocktail na Sala de Corte, restaurante de carnes maturadas em Lisboa. “Este formato de copo aguenta melhor o transporte”, explica.

A história é contada em Bar Aberto, livro sobre o mundo da coquetelaria que Fernão Gonçalves escreveu com o ex-jornalista Diogo Lopes. Este copo, de base mais arredondada, nasceu no século XIX para servir champanhe. Reza a lenda que terá sido inventado por Maria Antonieta, quando a rainha francesa ordenou que se criasse um copo com a forma da sua mama. Lançado em junho de 2024, o livro é um manual de mixologia que reúne reflexões e dezenas de receitas para preparar em casa – incluindo a do Espresso Martini, cocktail disponível em todas as lojas Delta The Coffee House Experience. Curioso? Comece já a preparar o shaker.

Fernão Gonçalves, chefe de bar executivo do grupo de restauração Plateform e coautor do livro Bar Aberto

A receita de Fernão Gonçalves

 

Material

Shaker 

Jigger (ou outro copo medidor)

Coador de rede

Ingredientes

50 ml de vodka

30 ml de licor Kahlua

35 mil de café expresso

10 ml de xarope de açúcar 

3 grãos de café

 

Modo de preparação

Junte num shaker 50 ml de vodka, 30 ml de licor Kahlua, 35 ml de café expresso e 10 ml de xarope de açúcar. Agite rapidamente (num shaker com bastante gelo) e coe para uma taça de cocktail (idealmente, arrefecido com gelo, para evitar as variações bruscas de temperatura). Finalize com os três grãos de café. 

 

Cafés para dias quentes

Nas lojas Delta The Coffee House Experience de Lisboa e Porto

Cold Brew

Uma bebida de frescura reforçada, um café que nunca esteve quente. Além de ocupar o pódio das bebidas de café mais frescas, é também a que exige mais tempo de produção. “Demora entre sete a oito horas. Assim que fica pronta, vai para o frigorífico. Depois, servimos com duas pedras de gelo”, indica o barista da loja Delta The Coffee House Experience, Daniel Patrício. É um café de filtro, cujo método de extração, gota a gota, acontece através da infusão com água fria.

Caramel Espresso Martini

A variação mais gulosa do Espresso Martini inclui vodka, licor de café, um café expresso e xarope de caramelo. “Torna a bebida mais doce, criando, talvez, um estilo alternativo a um digestivo, mas mais suave”, considera Daniel Patrício, barista chefe das lojas Delta The Coffee House Experience. Aqui é servido num copo largo e sem pé, com três grãos de café por cima. O propósito não é só estético – corre o mito de que os grãos significam saúde, riqueza e felicidade. 

Mazagran

É, acima de tudo, um refresco com café, considera Daniel Patrício. Misturando café, água, sumo de limão e gelo, o Mazagran nasceu com o propósito de trazer consolo aos dias de altas temperaturas: terão sido soldados franceses, no século XIX, na aldeia argelina de Mazagran, a misturar gelo e açúcar no café – e, por vezes, rum – com o objetivo de aliviar o calor. O copo alto e translúcido, embaciado pelo gelo, permite observar todos os elementos da bebida, terminada com uma folha de hortelã à superfície. Ideal para beber durante uma tarde quente de verão.

Nitro Coffee

O café de filtro, extraído gota a gota através de uma cafeteira Chemex, é infusionado com nitrogénio, através de uma torre de nitro. Dito assim parece coisa de laboratório. O gesto, contudo, lembra antes uma cerveja de pressão a ser tirada. O café Nitro é servido diretamente de uma torneira à pressão e destaca-se pela cor escura e opaca, assim como pela discreta espuma à superfície. Para o barista, esta é uma das bebidas de verão mais adequadas aos apreciadores do café puro – sem cremes nem açúcares, é fresco e mantém-se fiel ao sabor.

Affogato

O Affogato é uma invenção italiana plena de sabor e de textura. O nome diz tudo: servido num copo largo e curvo, uma bola de gelado – aqui artesanal, de caramelo e noz-pecã – é afogada num café expresso acabado de sair. A colher faz falta ao início, mas rapidamente se exclui: os dois constituintes fundem–se, sobrando apenas um creme que se deixa beber. Não será, pois, de admirar que o barista sugira o Affogato para o fim da refeição – adoça o momento e recarrega energias.

Orange Coffee

Não é uma bebida óbvia. Alguns podem até considerar a junção arriscada. Mas Daniel Patrício garante que é uma combinação vencedora. Tome nota dos ingredientes desta bebida fresca com matizes cítricos, de popularidade crescente nas casas especializadas de café: sumo de laranja, água gaseificada, expresso duplo e pedras de gelo a refrescar o copo. No topo, uma rodela de laranja e folhas de hortelã garantem que, este verão, o Orange Coffee, uma novidade nos espaços Delta, seja sinónimo de brilharete no Instagram.

Frappé

“É um ótimo complemento para o pequeno-almoço ou lanche”, considera Daniel Patrício. Bom companheiro de uma torrada, estamos perante a versão fria do clássico galão: com a famosa espuma à superfície, tem café, leite, xarope de açúcar (opcional) e gelo, agitados com bastante vigor no shaker e coados para o copo. Hoje com várias reinterpretações, o frappé original terá surgido na Grécia por necessidade: não dispondo de água quente para preparar o seu café solúvel, um representante de uma grande empresa de alimentos e bebidas, nos anos 60, experimentou usar água fria e gelo. Resultou!

Cream Cold Coffee

“Servimos todas as nossas bebidas também em take-away”, lembra Daniel Patrício. Com o Cream Cold Coffee estamos, na opinião do barista, perante um bom candidato: é uma bebida para acompanhar, refrescar e saciar passeios pela cidade, mas também tardes de convívio num jardim ou esplanada. Uma bebida cremosa, com corpo e substância, que pede uma palhinha ou colher para que todos os ingredientes se misturem bem. Muito popular na Índia, o Cream Cold Coffee junta ao expresso duplo – embora se possa usar apenas um simples – natas previamente agitadas no shaker com gelo.