Curia

Ao encarar-se o pórtico de entrada no Parque das Termas da Curia, não é difícil recuar no tempo e imaginar a longa alameda de terra batida, que se vislumbra a partir do exterior, repleta de gente. É que esta aldeia em terra de vinhos e espumantes foi, na primeira metade do século XX, um local de romaria devido às suas famosas águas termais.

Depois de alguns anos votada ao esquecimento, a requalificação dos edifícios termais em estilo Art Déco deu uma nova vida à estância termal. Este ano, de acordo com José Romão, responsável das Termas da Curia, o número de visitantes já se aproxima dos registados em 2019, e é crescente a procura por tratamentos de saúde e bem-estar. 

É também neste parque de 14 hectares repletos de mata, jardins verdejantes, árvores centenárias e um lago artificial – com gaivotas a pedal prontas a serem usadas – que se encontra o Hotel da Curia. Numa manhã de fim de semana, em setembro, as avenidas enchem-se gradualmente de famílias. Da receção do hotel vão saíndo casais de sexagenários que escolhem as mesas no exterior para ler o jornal e começar o dia. Na piscina ao lado, por sua vez, há quem aproveite o clima ameno de fim de verão para ir a banhos.

Já fora do parque, o imponente Curia Palace Hotel Spa & Golf conserva a aura de outros tempos. O seu restaurante é a prova do glamour que perdura desde a inauguração do hotel, em 1926: o papel de parede azulado com motivos florais, os painéis de madeira que as revestem e as mesas e cadeiras robustas facilmente poderiam ser cenário de filme. No exterior, a piscina olímpica em estilo Arte Nova – a segunda a ser construída no país, em 1934, e a mais antiga ainda em funcionamento – ou os vitrais originais da receção fazem-nos novamente recuar no tempo e imaginar o bulício dos frenéticos anos 20.

Mealhada-Sangalhos-Anadia

Bairrada é sinónimo de vinho, espumante e leitão. Como tal, importa mencionar a existência de um triângulo gastronómico de paragem obrigatória. Falamos do eixo Mealhada-Sangalhos-Anadia, onde se come e bebe ao mais alto nível – e não falamos só do primoroso leitão. Há quem esteja a inovar e o faça com exímia qualidade, mas já lá iremos.

É em Sangalhos, à saída da Nacional 235, que gastrónomos reputados dizem encontrar-se o melhor assador de leitões da região. O nome de Ricardo Nogueira facilmente se confunde com o do restaurante Mugasa, negócio de família que durante longos anos foi uma espécie de Meca do leitão assado para locais e para entendidos na matéria.

A cerca de 400 metros daí, Mário Sérgio Alves Nuno – o produtor dos vinhos da Quinta das Bágeiras – espera-nos na adega depois de mais uma manhã nas vindimas. O ensopado de cabrito que alimentou a mesa corrida de amigos dá o alerta: o vinho que produz há 30 anos pede boa comida para brilhar. A loja do outro lado da estrada e o anexo onde organiza almoços para grupos são excelentes pretextos para conhecer os seus vinhos e espumantes.

Mas é na Mealhada que nos deparamos com uma das maiores cartas de vinhos do país. São mais de 3000 referências prontas a serem descobertas no Rei dos Leitões, um restaurante que – surpresa – é profícuo nas carnes maturadas, peixes e arrozes de mariscos. Paulo Rodrigues está à frente do negócio há 11 anos, tendo modernizado e diversificado a sua oferta gastronómica.

Esta santa trindade gastronómica completa-se com a descoberta da Espumanteria do Parque, em Anadia. Um novo projecto do chef Jorge Dias, em que a comida está ao serviço dos vinhos e dos espumantes – e não o contrário, como é regra. Aqui, o sushi e as carnes maturadas são os protagonistas.

Luso

No sopé da Serra do Bussaco, a vila termal do Luso emana uma sensação de serenidade a quem chega. As ruas, por onde poucos carros e pessoas passam, deixam antever que aqui se vive devagar. A zona nobre da vila, com o seu mercado e o complexo das Termas de Luso rodeadas pela beleza da serra mais acima, convidam a um passeio pelas imediações.

Ao fazer-se o curto trajeto até ao Jardim de Luso – um dos pontos de interesse da vila com um agradável lago com patos – impera o silêncio, quebrado apenas por duas comadres que falam à janela, fazendo uma pausa nos seus afazeres.

No salão de chá Rosa Biscoito, na alameda principal, que conserva os tetos de estuque trabalhados e o balcão em madeira, a agitação é outra, como denotam as vozes que ecoam do seu interior. Esta casa de chá, que é igualmente restaurante e mercearia gourmet, serve desde pequenos-almoços a jantares, ocupando o antigo edifício do Casino de Luso – outro dos excelentes exemplares do movimento Belle Époque que se encontra na região – e é uma boa opção para quando a fome aperta.

Uma das paragens obrigatórias na vila é a Fonte de São João, que nada tem a ver com a água mineral natural engarrafada do Luso mas da qual é possível recolher e beber a sua água. Ainda junto ao Jardim do Luso deparamo-nos com o histórico Grande Hotel de Luso, inaugurado em 1940, com assinatura de Viriato Branco (o mesmo do Portugal dos Pequenitos, em Coimbra).

Se ao calcorrear a vila se cruzar com algumas câmaras fotográficas de aspecto antigo, não estranhe e ceda à tentação de as espreitar. A rota fotográfica Luso Antique, espalhada por onze pontos da vila, mostra como eram esses locais no passado, ao mesmo tempo que os observamos no seu estado atual.

Bussaco

Há quem diga que visitar a serra, que atinge 549 metros no seu ponto mais alto, e que em tempos deu pelo nome de Alcoba, é como entrar no cenário de um filme de fantasia. E é para reforçar essa sensação que se começa o roteiro pelo seu ponto mais alto: o Miradouro da Cruz Alta, de onde se avista o Oceano Atlântico (a Oeste), a Serra da Estrela (a Sudoeste) e a Serra do Caramulo (a Nordeste). Num dia mais nublado, como experienciou quem assina este texto, o deleite com a vista pode ser menos impactante, mas nunca dispensável.

A partir daí, é sempre a descer. A Mata do Bussaco, com 105 hectares de floresta, justifica a visita, oferecendo um rol de actividades culturais e de contacto com a natureza. Um pormenor importante a saber de antemão é o de que a entrada com veículos é paga (5€). A pé, por sua vez, é gratuita.

Construído em 1907 para servir a rainha D. Maria I, o Palácio do Bussaco é hoje um hotel de luxo – e um clássico. A quantidade de passantes que calcorreiam as suas arcadas manuelinas numa tarde de domingo fazem-nos questionar se serão hóspedes ou apenas curiosos. Parece um monumento parado no tempo, tal o encanto das suas áreas comuns ornamentadas. 

Além dos trilhos demarcados por placas de madeira e das atrações principais da Mata do Bussaco, como os lagos ou o Vale dos Fetos, junto ao hotel encontra-se ainda o Convento de Santa Cruz, cuja história remonta a 1628. Ficando essa nota, é nos encantos naturais da mata que somos arrebatados pela imponência das escadarias da Fonte Fria, por onde há milhares de anos escorre a água filtrada pela serra, ou a beleza do Trilho da Água, que, ao longo de cerca de duas horas, leva a várias fontes e aquíferos que de outra forma nos passariam ao lado.