É um surpreendente desvio estatístico: afinal, qual é a probabilidade de uma empresa de pneus dar origem à mais respeitada autoridade da alta-cozinha do mundo? Aconteceu com os irmãos franceses André e Édouard Michelin, que em 1900 lançaram o primeiro Guia Michelin. Com o objetivo de fomentar as viagens de carro (e, claro, vender mais pneus), o Guia começou por consistir numa modesta listagem de postos de gasolina, mecânicos, restaurantes e hotéis. Atualmente, o “Guia Vermelho” é a principal autoridade no fine dining e uma referência única na avaliação dos restaurantes, presente em quatro continentes e 40 países. Por cá, a estreia deu-se em 1910, com a distinção dos restaurantes dos hotéis Santa Luzia, em Viana do Castelo, e Mesquita, em Vila Nova de Famalicão. Hoje, Portugal conta 38 projetos estrelados – 31 com uma estrela (“cozinha de valor, merece uma paragem”); e sete com duas (“cozinha excecional, merece um desvio”). A terceira (“cozinha única, justifica uma viagem especial”) ainda está por vir. Certo é que a espera pela mais alta distinção gastronómica já leva algum tempo – e acumulam-se os motivos que apontam para que 2024 seja o ano. Afinal, o país inicia um novo capítulo, com uma gala própria e um guia exclusivo, finalmente separado de Espanha. Qualquer que seja o resultado, uma coisa é certa: de norte a sul do país, a estrela é Michelin, mas o café é Delta. Pelo menos, nestes 13 restaurantes.

No Norte e Centro

Vila Foz

Chef Arnaldo Azevedo (Porto)

O Vila Foz Hotel dificilmente passará despercebido aos que passeiam na avenida de Montevideu: fica numa mansão de fachada verde menta, datada do século XIX, mesmo em frente à praia Homem do Leme. É aí, no antigo salão de baile, de pé-direito alto, tetos trabalhados e paredes espelhadas – a contrastar com os elementos modernos da decoradora Nini Andrade Silva – que fica o restaurante homónimo, com uma estrela desde 2022, distinção conseguida sob a liderança do chef Arnaldo Azevedo. Com 12 momentos, que terminam com petit fours e café Delta, o menu Maresia é uma viagem pelos sabores do mar. No menu Novo Mundo, a experiência é vegetariana, cruzando coordenadas geográficas distantes. 

 

 

Largo do Paço

Chef Tiago Bonito (Amarante)

Amarante é terra com brilho: além de berço do ilustre artista português Amadeo Souza-Cardoso, é casa do Largo do Paço, fine dining que desde 2004 mantém uma estrela Michelin. Faz parte da Casa da Calçada Relais & Châteaux, boutique hotel nas margens do Tâmega, outrora palácio do Conde de Redondo, mandado construir no século XVI. O restaurante tem sido, desde a abertura, há mais de 20 anos, casa de conceituados chefs, como José Cordeiro, Vítor Matos, Ricardo Costa ou, mais recentemente, Tiago Bonito. Com uma cozinha pautada pela sofisticação, café Delta, frescura e criatividade, “encostou as portas” para uma remodelação profunda, deixando um “até já”.

 

G Restaurante

Chef Óscar Geadas (Bragança)

Do butelo, ao mel ou à castanha. Os sabores do nordeste transmontano servem-se no G Restaurante, aposta familiar dos irmãos Óscar e António Geadas (chef e escanção, respetivamente), com uma estrela Michelin desde 2019. O conceito é descomplicado, enaltecendo a riqueza que nasce em terras de montanha – e que depois é trabalhada numa cozinha de base moderna, dando origem a vários menus de degustação. Inserido na Pousada de São Bartolomeu, o restaurante tem uma esplanada com 50 lugares. A experiência, para saborear com vista para o castelo e cidade de Bragança, termina com Delta Q.

 

Mesa de Lemos

Chef Diogo Rocha (Viseu)

Perto de Viseu, há astros com cores diferentes. A equipa liderada pelo chef Diogo Rocha conquistou em 2022 uma estrela verde, galardão que premeia restaurantes pela sua abordagem sustentável. Um “oásis arquitetónico e gastronómico”, descreveu o Guia, que já havia distinguido o Mesa de Lemos em 2019. Fica inserido no Edifício de Lemos, projeto em equilíbrio com a natureza envolvente, da autoria do arquiteto Carvalho Araújo, e que chegou à shortlist dos prémios internacionais do ArchDaily. Com dois menus de degustação, de seis e oito momentos, o chef Rocha une às técnicas contemporâneas os melhores produtos da região, incluindo vinho e azeite com o cunho Quinta de Lemos. O café, esse, é Delta Q.

 

Em Lisboa

Fortaleza do Guincho

Chef Gil Fernandes (Cascais)

Uma fortificação do século XVII por cima do mar foi transformada em hotel. E, nesse hotel, do grupo Relais & Châteaux, situado no Parque Natural de Sintra Cascais, nasceu um restaurante com o mesmo nome. No Fortaleza do Guincho, com uma estrela Michelin desde 2001, o principal produto não poderia ser outro, por isso é o mar que domina a experiência proporcionada pelo chef Gil Fernandes, ali desde 2018. É ele quem assina o menu de degustação Memórias, de 12 momentos e inspirado nas suas vivências, disponível também numa versão mais curta. O café é Delta Platinum.

 

100 maneiras

Chef Ljubomir Stanisic (Lisboa)

Uma história de superação. O 100 Maneiras começa em Cascais, numa casa que faliu; renasce no Largo da Trindade, na forma de um Bistrô; e amadurece no Bairro Alto com um conceito que em 2020 lhe valeu uma estrela Michelin. Com 32 lugares e paredes de veludo, tem três menus de degustação (de 17 momentos, de 11 e um vegetariano)que contam a história de vida de Ljubomir, natural de Sarajevo. “Bem-vindos à Bósnia”, por exemplo, dá início à viagem gastronómica com um pão feito à maneira de Rosa Stanisic, mãe do chef mais desaforado do país. Os cocktails são de João Sancheira. O café é Delta Bio Coffee. 

 

Eleven

Chef Joachim Koerper (Lisboa)

Mudou para sempre o cenário gastronómico lisboeta. Inaugurado em 2004, o Eleven inovou com a sua abordagem à alta cozinha. O sucesso da iniciativa deve-se, em grande parte, ao chef alemão Joachim Koerper. Um ano depois de abrir, conquistou uma estrela Michelin, o primeiro astro para Lisboa – o restaurante, entretanto, já a perdeu e voltou a recuperá-la. No topo do Jardim Amália Rodrigues, num edifício minimalista com uma vista que se estende do Parque Eduardo VII ao Tejo, o Eleven tem cinco menus de degustação, serviço à carta e café Delta Q.

 

Belcanto

Chef José Avillez (Lisboa)

Duas estrelas Michelin, desde 2014. O 25.º melhor restaurante do mundo, segundo o The World’s 50 Best, em 2023. No Chiado, a “casa-mãe” do “império” de José Avillez, descreve o Guia, dá a provar a cultura portuguesa em dois menus: o dos Clássicos, que revisita as suas propostas mais emblemáticas ao longo de 12 anos; e o Evolução, reflexo do caminho que o Belcanto tem vindo a percorrer nesta jornada de sucesso. No final, café Delta Diamond. 

 

Encanto

Chef José Avillez (Lisboa)

Vizinho do Belcanto, o “mundo encantado vegetal” de José Avillez recebeu logo no ano de abertura, em 2022, uma estrela Michelin, tornando-se o primeiro vegetariano estrelado da Península Ibérica. Com um menu de degustação único de 12 momentos, o Encanto é uma homenagem ao trabalho de pequenos produtores locais ou de proximidade, onde reinam os legumes, as sementes, as algas, as flores ou os queijos. Na belíssima sala, destaque para a estante que une duas paredes, através do teto. Também aqui, o chef Avillez escolheu café Delta Diamond.

Fifty Seconds

Chef Martin Berasategui (Lisboa)

É casa do melhor jovem cozinheiro do mundo: Nelson Freitas, sous chef no Fifty Seconds, venceu o San Pellegrino Young Chef Academy 2023, quando ainda respondia a Martin Berasategui, o lendário chef basco que acumula 12 estrelas Michelin. A vez do restaurante no topo da Torre Vasco da Gama chegou em 2019, um ano depois da inauguração. Há dois menus de degustação de base mediterrânica, de 12 e 10 momentos, bem como opções à lá carte. Uma refeição para desfrutar a 120 metros de altura, com vista para o Tejo. No final, café Delta CCC.

Epur

Chef Vincent Farges (Lisboa)

Nesta viagem liderada por Vincent Farges, cujo percurso em Portugal arranca no restaurante Fortaleza do Guincho, o supérfluo fica de fora. Com uma estrela Michelin, o chef francês une a sofisticação da técnica culinária do seu país de origem à riqueza do produto português no Epur, numa cozinha sem segredos, aberta para a sala, com uma abordagem minimalista e emocional, onde cada prato não tem mais de três sabores. A sala é simples e luminosa, com vista para o Chiado e para o Tejo. O café é Delta Diamond.

 

No Algarve

Vista

Chef João Oliveira (Portimão)

Se vem à procura de carne, o melhor é bater à porta de outra casa – ou, melhor, de outro chalé. Na belíssima construção do século XIX, outrora de um industrial de conservas, fica hoje o Bela Vista Hotel, unidade de cinco estrelas que detém o restaurante Vista. Já a estrela Michelin foi conquistada sob a liderança de João Oliveira, em 2017. As criações do chef nortenho regem-se por dois grandes princípios: a ligação à cultura da região que o acolhe desde 2015 e a aposta nas práticas mais sustentáveis, respeitando ao máximo a sazonalidade e proximidade do produto. O resultado? Dois menus de degustação: o Vista, onde a primazia é dada ao peixe e marisco, e o Terra, onde é rei o produto orgânico de origem vegetal. Falta dar algumas notas do currículo de Oliveira: além da passagem por importantes projetos gastronómicos portugueses, recebeu o Chef L’Avenir, prémio da Academia Internacional de Gastronomia; e foi nomeado no The Best Chef Awards, que anualmente elege os 100 melhores chefs do mundo. Falta o café: é Delta Gold e Bio.

 

Vila Joya

Chef Dieter Koschina (Albufeira)

Instituição gastronómica comandada por Dieter Koschina, o Vila Joya foi o primeiro restaurante a conquistar duas estrelas Michelin em Portugal, distinção que mantém desde 1999. Não será, por isso, de admirar que o chef austríaco, no Algarve desde 1991, seja um dos responsáveis pelo jantar da Gala Michelin, servido para 500 pessoas. A proposta do Vila Joya faz-se da criatividade de Koschina e da matéria–prima algarvia, sobretudo da que chega do Atlântico. Além do cariz local, a sazonalidade é outra pedra basilar do trabalho do chef. O Signature Menu, constituído por quatro pratos, tem, desta forma, um carácter dinâmico, mudando diariamente – e ao almoço, o Daily Changing Menu propõe algo novo todos os dias. Com interiores elegantes e ambiente intimista (a mesa maior senta, no máximo, seis pessoas), o Vila Joya fica no luxuoso hotel cinco estrelas com o mesmo nome. Entre o azul do mar e o verde dos bonitos jardins, destaque-se ainda a esplanada com vista para o oceano e o café, da Delta.