Um fim de semana (bem) passado a conhecer o património cultural, a natureza preservada e a gastronomia típica, num roteiro que poderia (facilmente) ter o dobro da extensão.

Mafra

A meia hora de Lisboa, a vila histórica é cada vez mais visitada por turistas e razões não lhe faltam para a fama que a precede. Comecemos pelo monumento declarado Património Mundial da UNESCO em 2019: o conjunto do Palácio Nacional de Mafra, a Basílica, o Convento e o Jardim do Cerco, além da vizinha Tapada Nacional de Mafra. 

Construído no século XVIII por ordem de D. João V, o Palácio Nacional de Mafra destaca-se pela sua grandiosidade (conta 98 sinos e mais de 1200 divisões). Vale a pena visitar a enorme biblioteca com mais de 30 mil livros raros. À saída, mesmo no centro de Mafra, passe pela Pastelaria Fradinho, para provar a iguaria que lhe dá o nome. O fradinho, bolo conventual com feijão-branco, húmido por dentro e estaladiço por fora, come-se quase numa só dentada.

De energia reposta, faça-se à estrada para terminar o percurso iniciado, com uma visita à Tapada Nacional de Mafra. Construída em 1747, a Real Tapada de Mafra tem 1201 hectares de extensão, dos quais 800 hectares são visitáveis. Vá com tempo para caminhadas e piqueniques, assim como para o espetáculo de voos de ave de rapina e ainda para encontros felizes com os veados, gamos, javalis e raposas que ali vivem em liberdade.

Nos arredores da vila, são ainda de visitar as aldeias de José Franco e da Mata Pequena, dois tesouros culturais que preservam a essência da vida rural portuguesa e oferecem uma viagem no tempo.

Carvoeira

Já junto à costa, de sul para norte, a paragem seguinte é na Carvoeira. É ali que se come um dos melhores pães de Mafra da região – as filas que se formam à beira da estrada regional 247 que o digam. Trata-se de Celeste Alecrim, uma enorme roulote branca que não passa despercebida, parada na berma, num local de vista panorâmica, que deixa ver até ao (já distante) Convento de Mafra. Além do pão com chouriço – bestseller inquestionável –, há também pão com bacon e queijo, com farinheira, torresmos e até com bacalhau. Havendo Pão do Ó, o doce típico da Carvoeira (nem sempre disponível), não deixe de o provar.

Descendo até ao mar, muitos são os percursos pedestres com paisagens arrebatadoras. A praia da Vigia tem um acesso muito difícil, mas um areal amplo que merece a visita. Logo a norte, fica a praia de São Julião, encaixada entre arribas. Dali parte o curto mas maravilhoso trilho de São Julião, que começa pelas arribas altas, até à praia da Foz do Lizandro. A aproximação ao rio e à praia, com a Ericeira a espreitar ao fundo, é deslumbrante.

Para terminar o dia em cheio – e porque esta região integra oito quilómetros de costa abrangidos pela Reserva Mundial de Surf da Ericeira –, há que (pelo menos tentar) apanhar umas ondas. Muitas são as escolas de surf presentes nas praias concessionadas, e nem os meses frios assustam os verdadeiros amantes da modalidade.

Ericeira

A vila de pescadores à beira-mar plantada é um lugar de encontros. Por um lado, mantém-se tradicional, fiel a si mesma; por outro, e uma vez que recebe turistas durante todo o ano, é também uma terra virada para o mundo. No centro histórico, a dicotomia é notória. A Casa Gama, por exemplo, é incontornável: desde 1963 que fabrica os mais doces típicos da região. São de provar as queijadas, os queques e os bolinhos secos, ideais para levar para casa nas suas caixas metálicas coloridas.

Entre a praia do Sul e a praia dos Pescadores, mesmo no centro da Ericeira, fica o Parque de Santa Marta. Com rinque de patinagem, campos de ténis, minigolfe e parque infantil, sempre com uma vista privilegiada sobre o mar, é parque uma escolha certeira, dos oito aos 80 anos. O aluguer de campos e de material de minigolfe é feito através da app Mafrativa ou no local. Para almoçar, muitas são as possibilidades. Uma das mais tradicionais é O Farol, onde, desde 1980, o senhor Luís António grelha o peixe do dia na rua.

O dia termina no You and The Sea, um aparthotel simples e confortável, com pinta de casa de surfistas. Desfrute dos apartamentos (a capacidade dos maiores vai até oito pessoas) mas também das piscinas interior e exterior, do spa e do ginásio, das bicicletas e do caminho exclusivo até à praia do Sul.

Santo Isidoro

A praia de Ribeira D’Ilhas, uma das mais bonitas da região, fica junto à foz do rio Cuco, linha que separa a Ericeira, a sul, de Santo Isidoro, a norte. Para chegar ao areal, percorra o passadiço de Ribeira DIlhas. São 218 degraus que separam a praia do miradouro homónimo, com paragens obrigatórias pelo meio – quer pelo terreno íngreme, quer pela beleza da paisagem.

Em Ribamar, somam-se as marisqueiras alinhadas na estrada nacional. N’O Rochedo recomendam-se os combinados de marisco para partilhar, que começam nos 45€.

Terra adentro, a apenas sete quilómetros da costa, fica a Olaria Norberto Batalha, atualmente nas mãos de Nuno Batalha, filho do fundador, que tem conseguido reinventar o negócio ao longo dos últimos anos. Inserido no projeto Artisans Map, este é mais um ateliê visitável na região, com artesãos que dão a conhecer o seu ofício – da cerâmica à latoaria, marcenaria ou cestaria. A iniciativa tem como objetivo pôr no mapa os talentosos mestres do Oeste e documentar a sua arte.

Encaixado num vale com vista para o mar, o Immerso faz jus ao nome: é um mergulho na natureza. O hotel de cinco estrelas conta com 37 quartos, spa, piscina e um jardim orgânico, além de dois espaços de restauração com consultoria do conceituado chef Alexandre Silva, que merecem uma visita demorada. Na esplanada do restaurante Emme, o pôr do sol é um espetáculo.