A Ria Formosa estende-se ao longo de 60 quilómetros de costa que marcam a paisagem do sotavento algarvio, desde a Praia da Manta Rota (a leste de Cacela Velha) até à Praia do Ancão (a oeste da Ilha de Faro). Mistura entre mar e ria, o Parque Natural é composto por penínsulas de areia, sapais e pinhais, sendo também casa para diferentes espécies de aves migratórias. Conheçamo-lo num fim de semana grande.

Cacela Velha

Fica no topo de uma falésia a pitoresca aldeia de Cacela Velha. Com casas caiadas de branco e os rebordos das janelas e portas pintados de azul ou amarelo, o centro histórico da aldeia é pequeno mas merece ser palmilhado por inteiro. Batizadas com nomes de poetas – de Sophia de Mello Breyner a Ibn Darraj al-Qastalli, notável poeta árabe nascido em Cacela, em 958 –, as ruas têm poemas espalhados pelas paredes. Logo ao lado, dá-se com a igreja matriz, o forte e o Miradouro de Cacela Velha, que tem a vista mais bonita para a ria Formosa.

A longa escadaria em pedra, ali a dois passos, desce da aldeia até à ria, sempre rodeada de flores e catos. No final, encontra-se o que se esperava de um lugar à beira-mar plantado: os sinais em madeira, de ar artesanal, indicam que é ali que se faz o embarque para chegar à Praia de Cacela Velha, quando a maré-cheia impossibilita a travessia a pé. Entre abril e outubro, os barcos andam para lá e para cá o dia todo, e a viagem de ida e volta custa 1,50€.

Ao final da tarde, de regresso à aldeia, há poucos restaurantes para jantar, mas bons. No Casa Velha, é de provar o arroz de lingueirão. E, porque vêm diretamente da ria para o prato, as ostras da Casa da Igreja, no largo, são inigualáveis em sabor e preço – a fila, por ordem de chegada, começa a formar-se a partir das 16h. Se gostar de surpresas, siga para o Conversas de Alpendre, um turismo rural a três quilómetros de Cacela Velha que trata muito bem os seus hóspedes. Ao jantar, que é diferente todas as noites, escolhe-se apenas o ingrediente principal (carne, peixe ou vegetais) que o chef se encarrega do resto. Depois de jantar, deixe-se ficar pelo alpendre ou vá conhecer os cantos à propriedade, por onde estão espalhados os diferentes alojamentos – das suítes à enorme casa na árvore (mais vistosa ainda à noite, toda iluminada), ou ainda a luxuosa cabana em madeira, camuflada na natureza, que por fora parece apenas uma enorme pilha de lenha.

Tavira

A cidade forma-se em torno do rio Gilão, mesmo antes de ele chegar à foz. O centro histórico percorre-se bem a pé e vale a pena passear pelo Jardim do Coreto, o Mercado da Ribeira e o Castelo de Tavira, que tem a melhor vista sobre a cidade.

A ilha de Tavira tem cerca de 11 km de comprimento, onde cabem quatro praias de fazer inveja: a praia de Tavira, a da Terra Estreita, a do Homem Nu e a do Barril. Esta última é uma das mais emblemáticas da região, muito por culpa do trajeto a que ela obriga. Não estando muito calor, o quilómetro que vai da localidade de Pedras d’El Rei até à praia faz-se bem a pé – mas tem, garantidamente, outro encanto se apanhar o pequeno comboio que noutros tempos transportava o peixe do dia e que hoje leva veraneantes até ao areal. Nas dunas da praia, à esquerda, fica o inquietante Cemitério das Âncoras, um memorial ao declínio da pesca de atum.

De regresso à base, vale a pena dar um salto a Santa Luzia, freguesia de Tavira e capital portuguesa do polvo. Para provar a iguaria de todas as formas e feitios, vá à Casa do Polvo. Há-o em chamuças e croquetes, panadinhos e saladas, ceviche, carpaccio, caril e moqueca. Sempre comprado fresquinho em leilão, ultracongelado durante meses e depois cozinhado ao vapor – nota-se bem.

Sobrando tempo para mais mergulhos, é rumar a noroeste de Tavira e trocar o salgado do mar pela doce Cascata do Pego do Inferno. A água cai de três metros de altura, formando uma lagoa verde-clara, para onde os mais afoitos se atiram de rochas altas, ora em queda livre, ora em lianas improvisadas.

A Quinta dos Perfumes fica a cinco minutos do centro de Tavira, mas existe num ritmo diferente. O hotel nasceu em 2015, no lugar de uma fábrica de essências de alfazema há muito desativada. Inserida numa propriedade de 42 hectares, a Quinta dos Perfumes conta apenas 17 quartos e, hoje, continua a cheirar bem: sente-se no ar o aroma das mais de 20 mil laranjeiras ali plantadas.

Fuzeta

Vamos começar por abordar o elefante na sala: Fuzeta ou Fuseta? A dúvida persegue até quem visita a vila piscatória, onde a palavra aparece escrita das duas formas. Eis a resposta: escreve-se com z, porque Fuzeta vem de Fozeta, diminutivo de foz, a que existia ali, onde desaguavam pequenos cursos de água. Agora sim, podemos conhecer em paz a pequenina mas encantadora vila. 

Quem percorre as suas ruas estreitas não consegue evitar parar a cada esquina, seja pelos azulejos das fachadas, ou pelas coloridas buganvílias. No ponto mais a sul, o azul da ria Formosa é o pano de fundo. Aí fica o habitualmente pacato Jardim da Fuzeta, que ganha vida com a Feira de Velharias, que é também mercado, e que acontece sempre no segundo domingo de cada mês (à exceção de agosto). Entre rulotes de comes e bebes, pregões e regateios, encontra-se de tudo: da cestaria à cosmética natural, da cerâmica à olaria, sem esquecer os polvos secos, o mel, o alho roxo ou a laranja do Algarve.

A poucos metros fica a praia da Fuzeta, integrada na cidade, com um areal estreito mas extenso. A uma viagem de barco de distância (2,15€ ida e volta), do lado de lá da ria, está a Ilha da Fuzeta – e, a nascente, as várias praias da Barra, mais distantes mas menos concorridas. As travessias são tão bonitas que valem por si.

De regresso à Fuzeta, descobre-se a Ecovia do Litoral, que atravessa o Algarve de uma ponta à outra – de Vila Real de Santo António ao Cabo de São Vicente. O corredor de 214 km faz-se a andar, a correr ou a pedalar. Pelo caminho, descobrem-se paisagens arrebatadoras. O percurso passa pelas salinas da Fuzeta, onde é comum o avistamento de flamingos.

Olhão

O nome oficial é Olhão da Restauração, mas há poucos que a chamem assim. A cidade ribeirinha descobre-se a pé, por entre ruas apertadas e labirínticas. É obrigatório visitar a igreja matriz, do século XVII, e subir à torre, de onde se avista a cidade de cima  – aí se descobre que, em vez de telhados, as casas têm açoteias, isto é, terraços de inspiração árabe, onde antigamente se secava o peixe ao sol.

É no centro histórico que fica a Casa Sérgio, que junta peças de artesanato, local e não só. Há cestaria, cerâmica, têxteis e até cosmética natural para descobrir e levar para casa. Seguindo em direção à ria Formosa, dá-se com os Mercados de Olhão, dois edifícios imponentes, em tijolo vermelho, lado a lado – um dedicado a peixe e marisco; outro a frutas, legumes e produtos regionais. Aí se encontra o melhor Folar de Olhão. Composto por camadas de massa intercaladas com manteiga, canela e açúcar amarelo, é uma das sete maravilhas da doçaria portuguesa e, por isso, não dispensa uma prova oficial na cidade que lhe dá o nome.

Pertinho fica o porto de embarque de onde saem os barcos para as ilhas da Culatra, da Armona e do Farol. A viagem de ida e volta começa nos 2€ e é uma beleza – as penínsulas de areia e os diferentes tons da ria Formosa marcam a paisagem, com Olhão cada vez mais longe do olhar.

Nos arredores da cidade, a Casa Modesta é um oásis de silêncio e tranquilidade. O turismo rural pertence a dois irmãos que decidiram recuperar a casa do avô, Carlos e Vânia Fernandes. O resultado conquista a cada detalhe – dos edifícios em forma de cubo às típicas açoteias, onde as espreguiçadeiras com vista para a ria Formosa convidam a ficar. O projeto de arquitetura é da autoria do PAr, gabinete que Vânia integra, e venceu o prémio internacional Architizer A+Awards, na categoria de hotéis e resorts, em 2017.