Abriu em 2007, em pleno coração de Campo Maior, com uma missão clara: ensinar e estimular as crianças da região. Mas se o intuito se manteve durante estes últimos 14 anos, a ambição foi crescendo e, com ela, o próprio Centro Educativo Alice Nabeiro. A acompanhar atualmente mais de 180 crianças e jovens, o CEAN é hoje um espaço de partilha de conhecimentos e de progressão, onde todos aprendem com todos e se celebram os talentos de cada um. 

A funcionar simultaneamente como escola e como espaço de Atividades de Tempos Livres, o cean acompanha crianças dos três aos 12 anos, sempre com o intuito de as ajudar a expandir e a materializar os seus sonhos. Nesse processo, porém, nada lhes é entregue: tudo tem de ser conquistado. Nesta casa cheia, o provérbio chinês que fala sobre ensinar a pescar – em vez de simplesmente entregar o peixe – ganha um novo sentido, já que todas as crianças são desafiadas a construir projetos próprios e a conseguir por si mesmas atingir os objetivos a que se propõem. Para isso, segue-se a metodologia do manual de empreendedorismo para crianças e educadores “Ter Ideias para Mudar o Mundo”, criado no CEAN em 2008 e distinguido em 2013 como um projeto inovador pela União Europeia.

Alice Nabeiro no seu Centro Educativo, que apoia atualmente 180 crianças.

A visão do CEAN é transversal às suas diferentes áreas de intervenção, divididas consoante as idades dos grupos de crianças. Dedicada aos mais pequeninos, a Sala Mágica funciona como uma pequena unidade de pré-escolar, em regime full-time, e é composta por alunos dos três aos seis anos. Para os alunos do primeiro e segundo ciclos, há o Centro de Talentos, que funciona em regime ATL e recebe os mais crescidos, com idades dos seis aos 12. Com este segundo grupo de crianças, trabalha-se em três momentos distintos: no tradicional e necessário Apoio ao Estudo, mas também nas Oficinas e no Clube, que são apostas inovadoras e que representam a metodologia progressista do próprio Centro.

As oficinas multiplicam-se em seis áreas de interesse, da música à ciência, passando pela expressão dramática, as artes, a biblioteca e a matemática. Em todos os casos, o objetivo é dar às crianças conhecimento e suscitar nelas curiosidade genuína e vontade de aprender. Todos os miúdos passam pelas diferentes oficinas e “é isso que os vai enriquecer”, garante Dionísia Gomes, coordenadora do CEAN. “É fundamental para que eles percebam que o conhecimento não é algo estanque, que as várias áreas se interligam 

e se acrescentam.”

O que se ensina aos miúdos é regra também para os professores que, apesar de terem as suas áreas de especialidade, colaboram entre si para criar projetos multidisciplinares. Sempre atentos às aptidões e interesses de cada um dos seus alunos, adaptam as estratégias adotadas para os motivar a seguirem os seus sonhos. É o caso do professor Carlos Pepê, coordenador pedagógico do CEAN e responsável pela oficina de ciências que, embora a sua área de especialidade seja outra, faz questão de apresentar Leonor e os seus bonitos desenhos a quem os visita. “São ou não são um espetáculo?”

Já no Clube, todas as crianças são desafiadas a criar projetos, sejam individuais ou em grupo, nas suas áreas de interesse. Ao longo de três meses, os objetivos inicialmente traçados vão sendo cumpridos e, sem intervenção direta dos professores, mas apenas com a sua tutoria, as ideias vão ganhando forma. Foi o que aconteceu nos meses de verão, em que muitos foram os projetos, das ciências às artes, que ocuparam os pequenos empreendedores do CEAN. Falemos sobre três desses projetos.

Projeto Robô

Ana Assenhas, Miguel Maia, Matias Costal, António Grifo e Leonor Nabeiro.

Quem visita o Centro Educativo Alice Nabeiro por estes dias encontra uma série de robôs, dispostos orgulhosamente quer na sala de ciências quer nos outros espaços comuns e de passagem. As pequenas esculturas, que não chegam a um metro de altura, foram produzidas este verão, numa parceria do espaço das ciências com o das artes plásticas. Entre robôs verdadeiros e robôs criativos, todos eles são vistosos, coloridos e bem diferentes entre si, já que os alunos foram convidados a dar-lhes um cunho pessoal.

Foi no âmbito da robótica, abordada em ciências, que surgiu esta atividade lúdica de criar um robô ou escultura a partir de materiais recicláveis. Durante o processo, os miúdos aprenderam sobre reciclagem e robótica mas também sobre outros temas relacionados e relevantes, como os perigos e a segurança na internet ou a montagem, desmontagem e manutenção de cada uma das peças que compõem um computador.

Entre os robôs desenvolvidos no CEAN, há projetos com maior e menor grau de complexidade. Dos exemplares que executam movimentos específicos, previamente programados através de botões, aos que já desempenham funções consoante os estímulos que encontram – que se desviam de obstáculos, por exemplo –, sendo estes programados em computador.

Com a descoberta da tecnologia presente desde o pré-escolar, as crianças do CEAN crescem em contacto com noções de robótica e programação adaptadas à idade em que estão. Seguindo as orientações do projeto My Machine, de origem belga, as crianças são convidadas a pôr em prática as suas ideias para melhorar o mundo através da construção das suas próprias máquinas. “Começamos com uma maquete e depois passamos à criação da máquina propriamente dita”, explica o professor responsável, Carlos Pepê, “que pode já ser um robô ou pode ter apenas algumas funções de robô, variando conforme a codificação que lhe damos”.

No espaço dedicado às ciências, as crianças estão em contacto com aplicações online através dos quadros interativos que, segundo o professor, “são verdadeiros mundos de oportunidades”. É recorrendo a esta ferramenta que se trabalha com as crianças em plataformas como a portuguesa UBBU, criada pela Academia de Código para pôr crianças a programar desde os seis anos. “O CEAN abriu em 2007 e está a trabalhar a robótica e a programação desde 2008. São temas que não deixamos cair. É um trabalho sistemático e persistente que faz toda a diferença.”

 

Projeto Hortinha Amarela

Eliane Costeira, Miguel Courelas, Leonor Cordeiro, Matilde Pinheiro, Martim Conceição, Santiago Guerra, Margarida Bonito, Rodrigo Coré e Filipa Ruivo.

Nasceu da vontade de um grupo de alunos do segundo ano, com sete e oito anos, de tornar o espaço exterior do Centro Educativo mais bonito. Pôr as mãos na massa – ou, neste caso, na terra – e fazer nascer verduras era uma ideia que os entusiasmava. Assim nasceu o projeto Hortinha Amarela, como lhe chamaram.

Para poderem arrancar com o projeto, os alunos começaram por desafiar os próprios pais a tornarem-se seus embaixadores, fornecendo materiais como sementes, vasos, pás e ancinhos – além das ferramentas que conseguiram reaproveitar do espaço dedicado às ciências, no CEAN, e daqueles que construíram a partir de materiais reciclados. É o caso dos canteiros, feitos à mão a partir de antigas paletes de madeira, ou das lonas, reaproveitadas dos toldos  produzidos pela Toldiconfex, empresa do Grupo Nabeiro.

A experiência da germinação deu origem a três novas áreas no CEAN: uma horta na sala, uma no exterior e ainda um canteiro. E se a ideia inicial era criar uma pequena horta apenas para cultivar ervas aromáticas, rapidamente o objetivo cresceu. Às aromáticas juntaram-se alguns legumes e, mais tarde, as flores. Atualmente há cenouras, alfaces, ervilhas, morangos e manjericão, bem como girassóis e margaridas. “Ainda não colhemos nada porque isto demora algum tempo, ainda temos de esperar um bocadinho”, explica Martim, um dos elementos do grupo, enquanto dirige a curta visita guiada à horta exterior.

Com o projeto realizado, os miúdos são convidados a analisar os pontos fortes e fracos do percurso, num exercício a que chamam “balança empreendedora”. Assinalaram que houve algumas plantas que secaram durante o processo e que nem todos os canteiros estão já germinados, mas, ainda assim, o que sobressai é a importância do trabalho em equipa e a alegria que é mexer na terra e ver os hortícolas a crescer. Os orgulhosos professores destacam os valores trabalhados ao longo destes meses de projeto: a união, a superação, a criatividade e a sustentabilidade.

 

Projeto Verão Refrescante

Beatriz Sabino, Camila Bicho, Clara Leão, Duarte Nanita, Ivan Bicho, Miguel Correia, Marta Pepê, Margarida Cardoso, Miguel Piçarra e Yara Pires.

Os verões no CEAN são marcados, já há muitos anos, pelas tardes de brincadeira na piscina mais próxima, que faz as delícias dos miúdos. Ora, quando este ano as crianças do terceiro ano souberam que, por causa das medidas de contenção da pandemia, não haveria idas à piscina, decidiram arranjar uma alternativa. A ideia começou por ser arranjar um escorrega e uma pequena piscina, onde os meninos do CEAN pudessem brincar e refrescar-se. Mas como todas as boas ideias, foi ganhando forma própria, e os miúdos começaram a sonhar com um insuflável gigante que tivesse uma piscina e não um mas antes dois escorregas incluídos.

Com este plano em mente, cuja execução excedia os 700€, era preciso pôr mãos à obra. A solução foi encontrar parceiros que acreditassem na ideia e criar com eles cabazes para rifar. Com a ajuda da farmácia de Campo Maior, os cabazes, que incluíam protetores solares e chapéus de sol, foram rifados pelas crianças a pais, amigos e conhecidos, todos os dias durante semanas. 

O montante ia subindo, mas a tarefa parecia impossível de concluir a tempo do verão… Foi então que, a provar que a sorte protege os audazes, houve uma surpresa. Em julho, surgiu uma contribuição inesperada que fez com que o grupo de crianças alcançasse o objetivo: os alunos do quarto ano decidiram doar o dinheiro que lhes tinha sobrado do seu próprio projeto. Afinal, é a união que faz a força.

Os mais de 20 pequenos empreendedores envolvidos neste projeto foram responsáveis por refrescar o seu verão, mas também o de todos os outros alunos do Centro Educativo Alice Nabeiro. À vez, todos os grupos de diferentes idades aproveitam para brincar neste novo espaço que trouxe mais cor e muito mais animação ao espaço exterior. Na balança empreendedora, o único ponto negativo que os miúdos apontaram foi terem de estar separados por idades e não poderem brincar todos juntos no insuflável. Ainda assim, o projeto obteve pontuação máxima por lhes permitir, nas suas palavras, mais “aprendizagem, brincadeira, pensamento, ação, comunicação, convívio, diversão e partilha”.