Aberto desde 1909, o seu verdadeiro nome é Âncora d’Ouro, mas desde há muito que é carinhosamente chamado Café Piolho. Não faltam teorias por trás da alcunha, que já motivou várias discussões. Edgar Gonçalves, proprietário do espaço desde 1979, partilha duas explicações.
O Piolho estudante
Edgar Gonçalves adquiriu o Café Âncora d’Ouro em 1979, já então conhecido por Piolho. “As faculdades saíram daqui, e o edifício da Universidade do Porto passou a reitoria, mas antes isto estava sempre cheio de estudantes”, recorda. Tão cheio que os vizinhos e clientes habituais começaram a dizer que “eram os piolhos” e que “todo aquele ajuntamento de estudantes e professores era uma piolhice”, explica o proprietário.
O Piolho dissidente
Nos anos do Estado Novo (1933-1974), o ambiente descontraído e a localização central do Café Piolho atraíam também intelectuais e artistas para conversas que, noutros locais, seriam arriscadas. “Como o café tem espelhos por todo o lado, era possível ver de vários ângulos quem entrava e saía. Por isso, sempre que viam alguém estranho, coçavam a cabeça para avisar os outros. E quem coça a cabeça tem piolhos”, conta Edgar Gonçalves.
Cimbalino ou bica?
Conta o proprietário que, algures na primeira metade do século XX, se serviu aqui a primeira bica do Porto – perdão, o primeiro cimbalino. “O Piolho foi o primeiro estabelecimento da cidade a receber uma máquina de café expresso, que se chamava La Cimbali”, diz. “Foi por isso que nasceu o termo equivalente à bica lisboeta. Era café de saco o que se vendia aqui antes.” Já hoje em dia é café Delta, do lote Platina, o cimbalino que se bebe no Piolho.
Francesinha
Diz-se que a Francesinha é um prato inspirado no croque-monsieur francês, mas adaptado ao gosto português, com camadas de carne, queijo e um molho rico à base de cerveja. O que não se diz o suficiente, mas que Edgar faz questão de lembrar, é que o Café Piolho terá sido dos primeiros a servir este prato. Quando o apetite dá sinal, atenção também ao cachorro à Piolho, com molho de francesinha, queijo e linguiça.
Movimentado
Foi local de encontro para gerações de estudantes da Universidade do Porto. Aqui se criaram amizades, se discutiram temas académicos e se planearam protestos. E continua a ser ponto de encontro. Mas hoje a clientela é mais variada – “temos muitos turistas” – e há sempre um jogo de futebol a passar numa das televisões. A casa nunca está vazia. A esplanada é que continua a não funcionar. “Lá fora faltam 50 mesas e 200 cadeiras por causa das obras do metro. Já deviam ter terminado”, lamenta.