1. Dormir numa carruagem

É clara a mensagem da placa de aviso, junto à linha de caminho de ferro: Pare, Escute, Olhe. E se cumprir as indicações e seguir a linha com o olhar, verá que termina numa antiga carruagem de comboio convertida em turismo rural. É provável que em mais nenhum lugar de Portugal se durma como na Herdade dos Adaens. Não faltam suítes nem bungalows, é claro, mas dormir num vagão de comboio – ou num barco, mas já lá iremos – é outra história. O princípio da economia circular deu o mote  e um antigo colega de João Manuel Nabeiro deu um empurrão. “Os contactos com a CP foram difíceis, mas como tinha lá um amigo, que foi meu colega no Liceu Nacional de Évora, conseguimos chegar a um entendimento com a CP para adquirir três carruagens, que vão passar a sete”, conta. As quatro novas já chegaram entretanto e inserem-se num projecto de renovação em desenvolvimento. Quanto às três originais, são elas a carruagem Nisa, inspirada na famosa olaria pedrada da vila; a Alter, em homenagem ao cavalo tradicional de Alter do Chão, o Alter Real; e a Arraiolos, com uma decoração inspirada nos tapetes bordados.

2. Os caminhos da Natureza

O que não falta, na Herdade dos Adaens, é espaço. São 400 hectares de típico montado alentejano, e ao fundo, a pautar o horizonte, está a beleza natural das serras de São Mamede e São Pedro de Albuquerque. Para melhor a contemplar, sugerem-se três caminhos de observação que não se cruzam. Dois dos caminhos, sensivelmente mais curtos em distância e duração, nunca chegam a sair dos terrenos da herdade. Já o terceiro é um troço pertencente ao “Percurso Raiano entre Cal e Mel”, um caminho municipal que atravessa a herdade, passa por ruínas de antigos fornos de cal e atravessa ribeiras. São 15,7 quilómetros que demoram aproximadamente 5h45 a percorrer – não é para curiosos nem iniciantes. 

3. A esplanada dourada

É nos dias de verão que este segredo se revela ao fim da tarde, quando o sol já não queima e uma leve aragem se levanta. A esplanada da Cozinha do Mercado fica nas costas do restaurante chefiado por Ilda Vinagre. De costas para o restaurante, mas de frente para o montado da Herdade dos Adaens e para a serra de São Mamede. Ao fundo, vislumbra-se até a sierra de San Pedro, já em Espanha. A esplanada é servida pelo restaurante, que só abre para almoços e jantares. Para breve, conta João Manuel Nabeiro, está previsto um novo modelo de receção com valências várias – entre elas, um bar. Porque numa esplanada com esta vista, qualquer hora é boa para se sentar à sombra, pedir uma bebida fresca e apreciar a paisagem.

4. A quinta pedagógica

Fica a saber-se quase tudo sobre raças bovinas portuguesas depois de uma visita à Quinta Pedagógica. Por exemplo, que a vaca maronesa, com os seus cornos delgados, brancos e pontas escuras é uma das figuras imortalizadas nas gravuras rupestres de Foz Côa. Ou que a vaca minhota é a única raça portuguesa com dupla aptidão (carne e leite) e que ostenta cornos brancos de tamanho médio e extremidades afogueadas.

“Temos aqui um conjunto de raças bovinas autóctones que não se veem em qualquer lugar. É nossa obrigação proteger e dar a conhecer este património”, sublinha João Nabeiro. Num passeio pelos caminhos de terra batida da Herdade dos Adaens, é muito provável o encontro com pavões, burros mirandeses e um sem-número de cabras. A visita dura, em média, uma hora e meia e está disponível também para não hóspedes.

5. A piscina ecológica

“Foi uma frescura que nos entrou pela herdade”, recorda João Manuel Nabeiro, mentor do projeto de turismo rural. A “frescura” vem em forma de lago, mas é, na verdade, uma piscina de 465 metros quadrados que reproduz um ecossistema aquático. É um habitat artificial com uma zona de fauna e flora onde acontecem os processos biológicos de purificação da água. A zona de banhos, à parte, tem uma área de 280 metros quadrados e até dois metros de profundidade. Há ainda um observatório subaquático, para se ver o que acontece por baixo da superfície – como se a piscina biológica fosse um aquário gigante. “O foco na Herdade dos Adaens foi sempre na sustentabilidade, em linha com as características do espaço e as suas qualidades ecológicas”, diz João Manuel Nabeiro, presidente do Conselho de Administração da Delta. A piscina vem nessa senda e é um dois-em-um: “Dá ainda a frescura que tanto precisamos no Alentejo, que nos dá sempre muitas alegrias, mas também muito calor no verão.”

6. O atelier do mel

Como se extrai, processa e embala o precioso néctar das planícies alentejanas, eis algo que vai aprender no Centro de Interpretação da Natureza, do Mel e da Biodiversidade. Além do ciclo do mel – do pólen recolhido pelas abelhas, à produção de cera e a sua transformação naquilo a que muitos chamam “ouro líquido” –, também o ciclo de vida destes pequenos insetos voadores é abordado de fio a pavio. A ideia, no fundo, é reconhecer a utilidade milenar da abelha para o Homem na produção deste alimento energético de excelência. E se colocar o dedo no pote do mel não é permitido, esse pode ser comprado na loja, bem como outros produtos apícolas como geleia real, própolis e cera. O Centro de Interpretação da Natureza, do Mel e da Biodiversidade é um local interativo e pedagógico que, através das abelhas, tenta ainda explicar a biodiversidade da Herdade dos Adaens. 

7. A herança Michelin

A soltura, sabor e textura do arroz de tomate malandrinho não engana: na Cozinha do Mercado moram mestria, talento, experiência e um dos segredos mais bem guardados da Herdade dos Adaens: a chef Ilda Vinagre. O seu currículo de quatro décadas na restauração inclui duas estrelas Michelin no Brasil (Bela Sintra e Chiado) e outra, conquistada em 1992, com um restaurante de comida tradicional alentejana em Terrugem, perto de Elvas (A Bolota). “É uma senhora desta zona que tem um caminho e uma história muito fortes”, diz João Manuel Nabeiro, que admite não dispensar o “bacalhau dourado nem o ensopado de borrego”. A chef Ilda comanda desde 2018 este restaurante de ambiente acolhedor, com uma carta que reúne o melhor da gastronomia local. A lista de vinhos é preenchida, em exclusivo, com referências da Adega Mayor, cujo edifício branco e minimalista, desenhado por Álvaro Siza Vieira, se avista ao longe, entre a bela paisagem alentejana.

8. A piscina interior

Apenas uma piscina seria sempre insuficiente para um hotel como este – mesmo sendo biológica e com quase 300 metros quadrados de superfície. Por isso, a Herdade dos Adaens tem não uma, mas duas piscinas. Uma exterior (a biológica) e uma interior, com 65 metros de área, que nos quentes dias estivais se transfigura numa piscina de ambiente aberto. É que se a zona de Campo Maior é extremamente quente no verão, como é apanágio do Alentejo, os invernos, por sua vez, podem ser bastante rigorosos. E para ajudar a suportar os dias mais frios, é ao lado da piscina convencional – chamemos-lhe assim – que se encontra o tanque de hidromassagem climatizado. E não se deixe enganar pelo uso do adjetivo “interior”, já que, ao contrário do que se poderia pensar, quer piscina quer jacuzzi recebem imensa luz natural.

9. A pedalar por aí

Ninguém desaprende a andar de bicicleta. Quem sabe, nunca se esquece. Da mesma forma, a sensação de explorar os 400 hectares da Herdade dos Adaens a pedalar vai acompanhar sempre os hóspedes que alugarem uma das bicicletas que o hotel disponibiliza. As bicicletas, umas elétricas, outras convencionais, são do tipo todo-o-terreno – o que significa que circular pelos caminhos de terra batida é opcional. E se é seguindo a estrada que mais depressa se visitam a horta biológica, a estufa de aromáticas ou o abrigo para observação de aves, é a pedalar livremente pelo campo, em comunhão com a natureza, que se criam memórias que perduram. Quem nunca aprendeu a andar de bicicleta tem nos carros a pedal ou nas Moto 4 uma boa alternativa.

10. O barco que não navega

Diz-se, na Herdade dos Adaens, que não é preciso água para navegar entre Carvalhos. Porque mesmo sem água à vista, o Barco Alqueva, com capacidade para alojar duas pessoas, é sinónimo de uma viagem tranquila ao mundo dos sonhos – e sem ondulação. Apesar do nome, este nunca navegou no grande lago. “Encontrámo-lo perto de Lisboa, em Sarilhos Grandes, atolado em lodo”, conta João Manuel Nabeiro. “Demos-lhe uma segunda vida.” A filosofia por trás desta opção liga-se “à história da mobilidade do café”, justifica. “Pensámos no barco, nos caminhos de ferro, nos transportes rodoviários e pensámos até num avião.” Mas se, devido a dificuldades logísticas, ainda não foi possível concretizar o sonho de aterrar na Herdade dos Adaens, o que seria uma muito original opção de dormida, os mesmos entraves não se colocaram à aquisição de dois autocarros. “Não são alojamento, mas proporcionam momentos tranquilos a quem nos visita.”