Neste preciso momento, existem paisagens em silêncio. Estamos aqui, rodeados por estas palavras, mas sabemos que elas estão lá, podemos imaginá-las, são habitadas por sobreiros enormes, oliveiras antigas, tempo que existe desde sempre e para sempre. Quem estiver diante dessas paisagens, a prestar atenção ao solene de tal grandeza, estará em silêncio, como a própria paisagem que contempla. A verdade da terra é transmitida aos que a amam e que, assim, se transformam nela.

Também por isso, o Alentejo não é apenas o campo, o contorno das árvores no fim das tardes de verão, um monte lá ao fundo, como não é apenas as ruas da vila, as paredes brancas de cal. Às vezes, o Alentejo é uma voz, o timbre dessa voz, mas também uma maneira de dizer, que nasce de uma maneira de pensar, que nasce de uma maneira de entender o mundo, a raiz da raiz da raiz. Às vezes, o Alentejo é um olhar, uma pausa entre palavras, uma pausa medida, escolhida, com fronteiras precisas, uma forma de moldar o tempo, tanto o que passa dentro de nós, como o que nos envolve. Nesse olhar, existe sempre a franqueza.

Logo na primeira vez que estive na sua presença, soube que o Alentejo era inseparável de Rui Nabeiro. Na infância, início da adolescência, eu vinha a Campo Maior para participar nas finais distritais de atletismo. Tinha dez, doze, catorze anos, estava de calções, tinha um número preso por alfinetes na camisola de alças, e lembro-me do impacto de vê-lo, o bigode, o sorriso, as pessoas a falarem dele com extrema consideração. Depois disso, ao longo dos anos, ao longe, fui sabendo que o Alentejo era inseparável de Rui Nabeiro em tudo o que lia ou ouvia dizer sobre ele. Mas perdi todas as dúvidas há pouco tempo, há poucos anos, quando ficámos frente a frente, quando pude conversar com ele. 

Sinto como um privilégio na vida a oportunidade de escutá-lo, de receber o que tinha para me dizer, de aprender com ele. Da mesma maneira, vejo agora que foi um prémio essa busca de palavras para descrever tudo o que me contou, as horas que passei a imaginar aqueles momentos. Agora, no tempo que passa sobre esse, instante a instante, parece-me que, ao conversar com Rui Nabeiro, conversei com o próprio Alentejo, com esta terra. 

Sim, enquanto estamos aqui, existem paisagens em silêncio, podemos imaginá-las, sobreiros, oliveiras, desde sempre, para sempre. Houve um tempo em que estivemos diante dessas paisagens, também nós em silêncio. Amámos essa terra, assim recebemos a sua verdade, assim nos transformámos nela. 

Agora, no tempo que passa sobre esse, instante a instante, parece-me que, ao conversar com Rui Nabeiro, conversei com o próprio Alentejo, com esta terra.”