“Fomos atentos”, resume Fernando Fernandes, recusando o rótulo de visionário. Este restaurante foi uma das causas e efeitos da geração que aí se encontrava, até o bairro se descaracterizar e fazer sentido mudar. O novo Pap’Açorda, no Cais do Sodré, já leva oito anos e continua um clássico cheio de histórias.

Lustre imponente

Ao abrir o novo Pap’Açorda em 2016, apenas um objeto do antigo espaço acompanhou os empregados de mesa e cozinheiros à nova localização: o imponente lustre de vidro de Murano à entrada, em contraste harmonioso com o estilo industrial de todo o restaurante. “Queríamos desligar completamente do espaço anterior, não fazer comparações.”

 

No centro do furacão

Mudar-se para o Mercado da Ribeira, em Lisboa, foi a forma de manter a casa fiel à sua essência. “Gosto de estar no rebuliço”, diz Fernando Fernandes. “Não tenho saudades nenhumas do Bairro Alto; deixou boas memórias e guardo-as”. Enquanto o piso térreo é um dos locais mais visitados por turistas, o segundo piso permanece um refúgio de portugueses.

 

Cadeiras com história

Tal como na primeira morada, Manuel Reis, falecido em 2018, encarregou-se da decoração: escolheu a dedo o chão, a cor do teto, pesquisou muito até chegar a cada objeto. As cadeiras pretas e de madeira foram compradas a um café em Paris que estava a fechar as portas. O café, esse continua a ser do lote Platinum.

 

Um cocktail, um croquete

O imponente balcão é a peça que recebe os clientes, logo à entrada. É um bom lugar para uma refeição rápida, para petiscar um salgado, como os croquetes de vitela, e para abrir o apetite com um cocktail: “o gosto por estas bebidas representa uma nova maneira de estar. Com este bar ganhamos novos clientes, falamos para novas gerações.”

 

O balde da mousse

Manuela Brandão comanda a cozinha desde os primeiros anos e mantém na carta ícones como a açorda com lagosta e camarão ou os filetes com molho de laranja. À sobremesa, ninguém esquece o momento em que o alguidar de mousse de chocolate chega nos braços do empregado. Quando se tira uma colherada do balde de inox, é tão densa que precisa de um jeitinho, com a tímida colher do cliente, para cair no prato.