Em 2016, Steffi e Nils voltaram ao seu primeiro destino de férias enquanto casal: Portugal. Desta vez, com a filha recém-nascida, Lotte, para aproveitarem as suas licenças de maternidade e paternidade. “Tínhamos uma ligação especial ao país e fazia sentido para nós virmos para cá durante aqueles seis meses”, explica Nils. Durante esse período, passado entre Lisboa e a Ericeira, este casal de alemães viveu apaixonado pelas pessoas, pela boa energia e pela natureza, mas sentiu falta de uma coisa: bebidas refrigerantes artesanais. “Nos nossos anos de faculdade, houve um grande desenvolvimento das bebidas artesanais na Alemanha e nós tivemos contacto com muitos produtores independentes. Ganhámos o gosto.” Quando estiveram em Portugal, perceberam rapidamente que não havia grandes alternativas no mercado. “Havia muitas cervejas artesanais, por exemplo, mas não encontrámos sodas. E ficámos a pensar nisso.” 

O casal de alemães mudou-se para Portugal no início de 2018 e, desde então, tem feito crescer a sua marca de sodas biológicas.

A ideia de uma mudança definitiva para Portugal surgiu ainda durante este período de pausa e regressou com o casal para Berlim, onde Steffi, formada em Economia, trabalhava numa multinacional, e Nils, que estudou Ciência Política e Filosofia, fazia parte de uma organização que ajudava crianças e jovens. As vidas apressadas que levavam não os satisfaziam e, já depois de serem pais, o sonho português começou a fazer cada vez mais sentido. Decidiram arriscar. “Passámos o ano de 2017 na Alemanha a trabalhar e a juntar dinheiro, enquanto desenvolvíamos a marca, estabelecíamos parcerias e criávamos o sabor da nossa primeira bebida. Um ano e tal depois, mudámo-nos definitivamente para cá.”

Chegaram à Ericeira no início de 2018 com três bebés: Lotte (na altura com dois anos), Jule (com apenas três meses) e um exigente e recém-nascido projeto em mãos: a why not soda, que deixava de ser apenas um sonho. Como todos os bebés, deu bastante trabalho. “Os primeiros meses foram muito desafiantes. As nossas filhas eram pequenas, estávamos num país novo cuja língua não dominávamos e tínhamos o sonho ambicioso de fazer e distribuir refrigerantes biológicos.” Entregaram-se ao trabalho como à família, com tudo o que tinham. “Conseguimos produzir lotes e arranjámos 40 a 50 clientes na área da grande Lisboa, só nós os dois, a bater a portas, com garrafas na mochila e muitas vezes acompanhados pela Jule no carrinho. Foi um ano difícil. E foi no final desse ano que participámos no programa da Startup Lisboa, que foi muito importante para nós.” Steffi e Nils tinham já feito um percurso impressionante em poucos meses, mas a ajuda chegou no momento certo.

A Startup Lisboa é uma associação fundada em 2012 que, com o apoio de grandes empresas – como a Delta –, tem a missão de ajudar empreendedores, oferecendo-lhes espaços de trabalho e uma estrutura de apoio que lhes facilite a obtenção de mentorias e parcerias estratégicas. Em 2018, a why not soda foi um dos 20 projetos selecionados entre mais de 100 candidaturas ao programa de aceleração From Start to Table, a primeira incursão da Startup Lisboa na área alimentar. 

O projeto de Nils e Steffi ganhou estrutura e dimensão e acabou por vencer essa edição. “Recebemos o prémio das mãos de Rui Miguel Nabeiro, um dos nossos mentores neste processo.” E foi a partir deste momento que a relação entre esta família de alemães e a família Nabeiro se intensificou. “Tivemos a oportunidade de falar com Rui Miguel Nabeiro [CEO da Delta Cafés] e gostámos muito do espírito dele e ele do nosso. A conversa foi uma grande motivação para nós: ouvir um ceo de uma empresa desta importância dizer-nos que temos um bom produto e capacidade para levar isto para a frente foi transformador. Fez-nos sentir que a nossa história tinha um fio condutor, que fazia sentido.” A conversa acabou com um convite provocatório. “Ele disse-nos que, se conseguíssemos provar que existia espaço no mercado para o nosso produto, a Delta poderia ser nossa parceira.” E assim foi.

Terminada a participação na Startup Lisboa, a why not soda conquistou o apoio oficial da Delta. Em poucos meses, Steffi e Nils ganharam um novo espaço de trabalho e viram a logística e a distribuição ficar a cargo dos seus parceiros, o que lhes permitiu ganhar tempo para olhar para o futuro. “Ainda estamos envolvidos nas vendas e gostamos de conhecer os nossos clientes, mas temos muita ajuda no dia a dia da empresa, quer nas operações, quer na visão. Temos uma ideia clara daquilo que queremos fazer com a why not soda – criar bons refrigerantes, feitos a partir de ingredientes biológicos, com níveis de açúcar muito baixos e com sabores novos e entusiasmantes –, mas ainda estamos a conhecer o mercado português. A Delta já conhece.” Por isso, nos últimos meses, foi-lhes possível fazer um rebranding da marca, delinear o futuro e desenvolver dois novos sabores: uma bebida de pêssego e gengibre e outra de framboesa e tomilho.

“É a nossa vida e nós decidimos o que fazer com ela. Gostamos de Portugal e gostamos de cá viver. Why not morar aqui e desfrutar?”

Após dois anos de bebidas exclusivamente baseadas em misturas de limão e mate, estes novos produtos são diferentes no sabor, que resulta de um twist inesperado de ingredientes simples e, desta vez, sem cafeína. No conceito, contudo, permanecem iguais: são sodas biológicas, não alcoólicas, made in Portugal, e destinam-se aos consumidores que se preocupam com a sua alimentação, mas que gostam de saborear a vida – um convite para experimentar coisas novas, e perguntar sem medo: why not? Essa é a pergunta que estes dois alemães teimam em fazer todos os dias. “Quando, a meio dos 30, em vez de decidirmos comprar casa e ter uma vida estável, decidimos mudar de país e lançar um negócio próprio, toda a gente nos perguntou “why?”. Ninguém conseguia perceber. Mas… why not? Porque não ter a coragem de mudar e fazer algo completamente diferente? É a nossa vida e nós decidimos o que fazer com ela. Gostamos de Portugal e gostamos de cá viver. Why not morar aqui e desfrutar?”

Dois anos após a decisão, não há arrependimentos, nem de Steffi nem de Nils. Pelo contrário. “Nós estamos bem, as crianças estão bem e estamos a viver esta aventura em família.” Se há desafios difíceis? Claro.“É um terceiro filho e é aquele com quem temos uma relação mais ambivalente. Nós amamos a Lotte e a Jule, façam elas o que fizerem, enquanto este negócio tem altos e baixos. Os últimos dois anos foram uma verdadeira montanha-russa. Começámos por gozo e afinal isto dá tanto trabalho! Mas aprendemos que ser empreendedor é precisamente ser perseverante.” O espírito de superação, esse, começa em casa. “Este é um projeto da nossa família. As miúdas chamam-lhe ‘a nossa limonada’, como se fosse limonada e como se fosse delas. E também é! Agora, além de pertencer à nossa família, é também de uma outra empresa familiar que nos desafia constantemente a fazer mais e melhor. É bom ter alguém que também nos pergunte ‘why not?’ e nos ajude a concretizar este sonho de viver em Portugal e criar aqui as nossas filhas.”