Com 250 quilómetros quadrados de área e 83 metros de extensão, o Alqueva é o maior reservatório artificial de água da Europa. Chamar-lhe grande é dizer pouco.
Leste
A primeira paragem deste roteiro fica a leste da barragem de Alqueva, na Aldeia da Luz, onde nem tudo é o que parece. O nome mantém-se, a malha urbana é a mesma, as pessoas também, mas a aldeia em si é completamente nova. Foi edificada em 2002, aquando da construção da barragem, depois de a aldeia original ter sido inteiramente submersa. O Museu da Luz conta essa história, com vídeos documentais da época, réplicas das casas originais e ainda quadros interativos que apresentam alguns dos moradores mais antigos, que ensinam aos visitantes os seus ofícios – como produzir queijo de cabra ou ferrar uma roda. A entrada custa 2€.
Bem perto fica o curto, mas bonito, Passadiço da Aldeia da Luz. Não chega a ter um quilómetro de extensão, mas vale a pena percorrê-lo, sempre junto à água, pela ondulada estrutura de madeira, até ao ancoradouro.
De apetite aberto pela caminhada, é seguir para o restaurante Adega Velha, em Mourão. O ensopado de borrego e a açorda de alho são populares, mas o cozido de grão (14€) é o bestseller – percebe-se porquê à primeira colherada. Para acompanhar, vinho das talhas que se veem espalhadas pelo restaurante. É aconselhável reservar mesa, especialmente aos sábados, quando é habitual haver sessões espontâneas de cante alentejano que se prolongam por toda a tarde.
O dia termina na Herdade dos Delgados Nature Hotel & Spa Alqueva, um hotel de quatro estrelas em que a localização é tudo. Rodeado de 10 hectares de terreno, o hotel conta com 24 quartos e três apartamentos T2. Aproveite a piscina interior aquecida, a sauna e o banho turco, mas também as piscinas exteriores com vista para a barragem, onde se pode praticar uma mão-cheia de atividades náuticas.
Sul
A sul da barragem fica a cidade de Moura, conhecida pelas suas ruas floridas – assim mesmo sinalizadas. As ruelas desta mouraria percorrem-se a pé por entre trepadeiras, vasos e vasinhos, com plantas e flores cuidadas pelos moradores do bairro. Não fica longe aquela que é provavelmente a loja mais bonita da cidade, a Casa Cavalheiro. Aberta desde 1918, mantém em funcionamento a antiga fábrica de enchidos nas traseiras, que atualmente abastece apenas a loja, que vende produtos regionais escolhidos a dedo, das mantas alentejanas às cestas em vime. A visita vale a pena desde logo pela receção de Gina e Manuel Luís Cavalheiro, que levam “no mínimo uma hora” com quem os visita, entre boa conversa e provas de enchidos e vinhos.
O Museu do Azeite é de paragem rápida mas enriquecedora. Está instalado no Lagar de Varas de Fojo, do início do século xix, em funcionamento até 1941. A exposição permanente dá a conhecer a importância do fabrico de azeite na região, os processos manuais utilizados antigamente e ainda curiosidades sobre a sua utilização até aos dias de hoje, na gastronomia mas não só.
Para quem aprecia caminhadas, a Rota da Água é uma excelente forma de palmilhar Moura de uma ponta à outra. O percurso de quase oito quilómetros começa junto ao Castelo de Moura, que é também de visita obrigatória. Do lado de fora das muralhas, espreite a nascente das Três Bicas; do lado de dentro, a Torre de Menagem e, sobretudo, as surpreendentes escavações arqueológicas. Situado a 183 metros de altura, o castelo oferece a melhor vista sobre a cidade.
Oeste
Subindo um pouco, chega-se à Amieira, onde são de espreitar o património arqueológico, a praça de touros e a marina, de onde saem boa parte dos barcos que se vê a passear nesta zona da barragem – inclusive aqueles que se alugam para pernoitar. Para aprender tudo sobre a barragem, a central fotovoltaica flutuante e a fauna e flora da região recomenda-se o passeio Alqueva com História da Alqueva Tours (11,50€). É um passeio de uma hora com pausa para mergulho, caso a temperatura assim o permita.
Subindo até Portel, todos os caminhos vão dar à Cozinha d’Aboim. O restaurante está instalado numa cavalariça do século xviii recuperada em 2009 e mantém ainda muitos dos elementos originais. A cozinha evoca a tradicional cozinha alentejana, com ensopado de borrego à moda de Portel (16€), cabidela com galinha do campo (15€) e as apuradas açordas de cação ou de espargos (13,50€).
Ao cair da noite, a antiga escola primária da Cumeada ganha vida. É lá que funciona o Dark Sky Alqueva e as suas visitas guiadas aos céus sem sair do mesmo lugar, recorrendo a telescópios de grande alcance. Na hora e pouco que dura a atividade de observação noturna (a partir de 25€) dá para ver constelações, nebulosas, enxames, planetas, cometas, estrelas coloridas e galáxias distantes. São de evitar as noites em que a lua está mais cheia, que tem o efeito de diminuir o contraste dos outros objetos celestes.
Norte
A norte do Grande Lago encontramos a vila amuralhada de Monsaraz, situada num alto, onde cada rua revela uma nova vista, ora sobre a vila, ora sobre a barragem. A meia dúzia de quilómetros fica a aldeia de São Pedro do Corval, o maior centro oleiro do país, que mantém em funcionamento mais de 20 olarias, muitas delas de portas abertas para que os visitantes possam conhecer os bastidores da produção, além de comprar peças. É o caso d’O Patalim, negócio de família que vai na sexta geração, com a sétima a dar já uns toques na roda de oleiro.
Seguindo a mesma estrada, dá-se bem com as seguintes três paragens. Comecemos pela de rápida paragem: o Cromeleque do Xerez, um monumento megalítico constituído por 50 menires de granito – estima-se que tenha sido erguido mais de três milénios antes de Cristo. Este cromeleque tem ainda a particularidade de ter sido o único da região a ser transferido, em 2004, por causa da construção da barragem.
O restaurante Sem-Fim é incontornável por estas bandas. Fica no velho Lagar do Telheiro e o azeite está presente em toda a ementa alentejana – do bacalhau às migas de espargos, sem esquecer a sopa de tomate (10€). Guarde espaço para terminar com umas migas doces.
Para terminar em beleza, recomenda-se uma paragem no São Lourenço do Barrocal. Na mesma família há dois séculos, o Barrocal já foi uma das herdades agrícolas mais prósperas da região. Abriu portas em 2016 como hotel rural de luxo, com um projeto de arquitetura assinado por Souto Moura e em total comunhão com a natureza. Seria preciso mais um fim de semana grande só para explorar este monte alentejano com spa, piscina, restaurantes e loja de produtos regionais, além de uma série de atividades ligadas à natureza – das provas de vinhos e azeites aos passeios a cavalo, das visitas arqueológicas à incrível viagem ao mundo das abelhas, em que se acompanha a equipa de apicultura numa visita às colmeias.