A área que se estende de Tróia a Santo André, passando pela Comporta e por Melides, é um pequeno paraíso na Terra. E apesar de o cartão de visita serem os 45 quilómetros de costa que compõem o mais extenso areal do país (e o terceiro maior da Europa), desengane-se quem julgar que o charme da região se fica pela beira-mar. Este roteiro é prova disso.

Tróia

A forma mais bonita de lá chegar, é sem dúvida, de barco, nos ferry-boats verdes que fazem travessias diárias a partir de Setúbal, em que se vê o paraíso a aproximar-se, imóvel, sobre o Sado. Mesmo em frente ao cais de chegada, entre Tróia e a urbanização Soltróia, fica a entrada para o Pestana Tróia Eco-Resort (dá inclusivamente para chegar a pé, numa caminhada de oito minutos). Inserido em 120 hectares de área protegida, o aldeamento turístico tem construções em apenas 40 hectares, reservando a maior parte do espaço para o elemento mais presente: a Natureza. Com 38 moradias e 150 apartamentos, as casas estão preparadas para 4 a 10 hóspedes, tendo a maioria piscina privada. Nas três club-houses da propriedade há piscinas exteriores e interiores, além de sauna, banho turco e ginásio. O destaque, no entanto, vai para os três acessos exclusivos à praia, que permitem chegar em poucos minutos a pedaços de areal praticamente intocados.
Do resort até à marina de Tróia são cerca de cinco quilómetros – uma hora a pé ou 15 minutos de bicicleta, pelo passadiço de madeira que acompanha a estrada principal. Chegando à marina, encontra-se o ponto de onde sai diariamente (às 10h e às 15h) o catamarã da Vertigem Azul, que faz passeios de observação de golfinhos. Durante uma manhã ou uma tarde navega-se pela costa de Tróia, pela Arrábida e pelas várias baías, à procura da comunidade de golfinhos selvagens que habita o estuário do Sado. A aventura é garantida – e o avistamento de golfinhos também o é quase, estando a taxa de sucesso nos 96%.

Comporta

A Comporta está para a Europa como os Hamptons estão para os Estados Unidos. Quem o disse foi o Financial Times, já lá vão meia dúzia de anos, e a alcunha parece assentar-lhe cada vez melhor. Encaixada entre praias e extensos campos de arroz, a pequena vila tem muito que explorar. Comece pela Casa da Cultura, um espaço que recebe exposições e dezenas de lojas pop-up (muitas delas com peças inspiradas na região) e ainda o Pizza Pisco, especialista em pizzas e em cocktails pisco sours. Onde hoje está a Casa da Cultura, funcionou em tempos um celeiro de arroz e um cinema; o edifício foi reabilitado e contou com o Studio Astolfi no design de interiores, inspirado no Cais Palafítico da Carrasqueira – a paragem seguinte neste roteiro.
A enorme estrutura em madeira foi construída pelos pescadores locais, a partir da década de 1950, para poderem aceder aos seus barcos independentemente das marés. Sete décadas depois, o propósito mantém-se e somam-se os turistas que vêm admirar a paisagem, desordenada e encantadora, em especial ao pôr do sol.
Para jantar, rume ao restaurante São João e deleite-se com o marisco – recomendam-se as cataplanas para dois (a partir de 48€). O dia termina no Independente Comporta, um aldeamento construído no meio da Natureza, com 40 quartos e 34 villas (de T1 a T5). Desfrute do ambiente das fogueiras exteriores e do maravilhoso pequeno-almoço, assim como das bicicletas elétricas do tipo Super 73 para circular nos 12 hectares da propriedade.

Melides

É por uma estrada de terra batida de cinco quilómetros que se chega à Praia da Vigia, umas das mais bonitas da região, com vista, de um lado, para o mar, e do outro, para a lagoa de Melides. É mais ou menos a meio dessa estrada que ficam os estábulos da empresa Passeios a Cavalo. Os percursos para iniciantes são circulares e têm a duração de uma hora e meia (a partir de 60€/pessoa), começando pelo campo, seguindo pelas dunas e descendo até ao areal. A viagem faz-se em grupo, mas a experiência é algo meditativa, de contacto intenso com a Natureza – tanto com o cavalo, como com o meio envolvente. No regresso, atenção ao ponto alto (literalmente) do passeio, de onde se conseguem avistar a lagoa e um areal sem-fim.
A caminho da praia da Galé, com uma paisagem marcada pelas arribas fósseis que chegam a atingir 50 metros de altura, passe pelo célebre Tia Rosa, um restaurante de “uma família com história”, como se lê nas t-shirts dos atarefados empregados. O espaço abriu portas em 1962 e vai hoje na segunda geração. Carlos Jorge Salgado, atual dono, a par do irmão Carlos, compara o negócio de família com o da Delta (têm praticamente os mesmos anos de existência), e conta com orgulho que o tio chegou a ter negócios com Rui Nabeiro, “na altura dos supermercados em Setúbal”. Passam-se as décadas e a especialidade da casa – desde 1978 – mantém-se: o maravilhoso pato no forno, servido em três generosas doses: inteiro (44€), meio (23€), um quarto (13,50€), e que acompanha com batata assada e arroz de cabidela.
No Núcleo Museológico da Olaria de Melides descobre-se como a aldeia foi um dos mais importantes centros de produção oleira. Em jogos interativos, um boneco do Mestre Chico (último oleiro de Melides, que deixou o ofício em 2007) dá algumas lições sobre a sua arte.

Santo André

O dia começa em movimento e em silêncio, no percurso pedestre do Salgueiral da Galiza. O passadiço palafítico de 1650 metros percorre um bosque de salgueiros que convida à imersão na Natureza. Durante cerca de uma hora ouve-se apenas a água corrente, as folhas ao vento e as muitas espécies de aves que ali vivem – os qr codes espalhados ao longo do percurso servem para se conhecer melhor a fauna e a flora presentes, com um quiz simples e bem conseguido.
A subida é íngreme até ao castelo de Santiago do Cacém, mas vale a pena visitá-lo. Passeie pelas muralhas e descubra a Tapada dos Condes de Avillez, um jardim botânico centenário, de inspiração romântica.
Depois de tanto caminhar, siga para a aldeia de Deixa-o-Resto e faça como diz o nome – deixe tudo o resto e dedique-se apenas ao almoço. É lá que fica o restaurante Ti Lena, especialista em carnes (maturadas, de porco preto e de vitela), mas com um bacalhau panado com migas de legumes que não é, de todo, de descurar.
De energias repostas, rume ao Badoca Safari Park para uma tarde em cheio (o bilhete inteiro custa 21,90€, as crianças até aos 10 anos pagam 17,90€). Nos 90 hectares de parque há perto de 600 animais de 80 espécies distintas. Visite as várias áreas (da quintinha à zona das aves ou dos répteis), terminando no safari, em que se veem os animais selvagens como no seu habitat natural – de zebras, girafas, búfalos e gnus a lémures, suricatas ou cangurus. Para quem gosta de emoções fortes, é obrigatório experimentar a atividade de Rafting Africano – um percurso turbulento a bordo de um barco pneumático em que os salpicos são garantidos.