Dia 1: Aventura na cidade

O dia começa sempre cedo no Mercado Municipal de Abrantes. Ao sábado, o movimento é intenso, por culpa das secções de peixe e carne, de frutas e legumes, e dos bolos e doces regionais que há lá para provar e levar para casa. Mas a visita vale a pena em qualquer dia da semana, desde logo pela arquitetura que surpreende o olhar. O projeto, de 2010, é assinado pelo ateliê ARX Portugal, que define o mercado como “simultaneamente edifício e rua”. Percebe-se o porquê logo à primeira visita: o edifício esta-belece uma ligação pedonal entre duas áreas da cidade e tanto é um local de passagem quanto um ponto de encontro na cidade. 

Na mesma linha, também a arquitetura do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte combina o novo e o antigo. Instalado no antigo Convento de S. Domingos, do séc. XVI, foi reabilitado em 2021 pelo arquiteto Carrilho da Graça. As dez salas de exposição dão uma perspetiva enriquecedora sobre as diferentes populações que foram habitando os territórios da Península Ibérica desde a Pré-história.

No alto da cidade, uma sugestão para provar os sabores da região. Se o restaurante A Velha não conquistasse os clientes pela fantástica vista do terraço, fá-lo-ia pela ementa desempoeirada e honesta: são de provar a sopa de peixe do rio, o escabeche de perdiz e o arroz cremoso de cogumelos e grão com queijo. 

O apetite pode estar saciado, mas guardamos um espacinho para a sobremesa. Para isso descemos até à zona histórica, na obrigatória praça Barão da Batalha, onde se provam doces regionais na Palha de Abrantes, a confeitaria que partilha o seu nome com o símbolo gastronómico da cidade, composto por gema de ovo com amêndoa e fios de ovos. Tão doce que cai muito melhor acompanhado de um café Delta. De estômago composto, desce-se mais um pouco até à Drogaria Nova, uma loja histórica que insiste em preservar o charme de outrora. À frente do espaço está Joana Borda D’Água, arquiteta de formação, que pegou na antiga drogaria do avô e lhe deu uma vida nova. Percorremos as vitrinas com tempo de apreciar não só os produtos utilitários e antigos como também o artesanato da região.

Ao final do dia, vamos até ao restaurante Dom Vinho, no Sardoal. A localização incomum (entre estradas, junto a uma bomba de gasolina) não faz adivinhar a qualidade da comida ou do serviço. Comemos o cabrito assado à moda da serra com arroz de miúdos. O leite-creme, queimado na hora, é uma delícia.

Dia 2: Périplo cultural

Há três museus imperdíveis na região, mais ainda se crianças fizerem parte da equação. Dedicamos-lhes este dia, que começa com uma visita ao Borboletário Tropical, integrado no Parque Ambiental de Santa Margarida, nos arredores de Constância – pois é de manhã, sobretudo em dias mais soalheiros, que as borboletas espevitam e ganham vida. A visita pede marcação prévia e algum vagar, já que a entrada na estufa das borboletas, de ambiente quente e húmido, é sempre acompanhada das devidas explicações dos técnicos sobre as panapanás, como também são conhecidos estes insetos alados. Passeie ainda pelo parque, com mais de seis hectares de verde, e descubra o anfiteatro, o campo de jogos, o parque de merendas e o jardim de plantas aromáticas.

Tejo abaixo, fazemos um desvio de 20 quilómetros até ao Entroncamento para conhecer o Museu Nacional Ferroviário e os seus 36 mil objetos – muitos com pesos e dimensões consideráveis – que contam a história dos comboios em Portugal. Das primeiras locomotivas a vapor aos comboios que o futuro há de trazer, é fácil perder-se a noção do tempo entre carruagens e vagões antigos, sobretudo perante os impressionantes Comboio Real e Comboio Presidencial.

Segue-se uma incursão por Constância, vila de casas caiadas de branco e ruas cheias de flores, e ponto de interseção dos rios Tejo e Zêzere. Almoçamos num dos restaurantes mais conhecidos da vila, o Leopoldina Tavernas, onde se destacam o porco preto, a vitela mirandesa e o polvo tenro, tão tenro que se desfaz praticamente sozinho. Finda a bela refeição, é tempo de continuar o périplo cultural. 

Rumamos agora ao Centro de Ciência Viva de Constância, um lugar interativo dedicado à divulgação científica e, em particular, à astronomia. Convém marcar a visita para que esta coincida com as atividades que decorrem em diferentes momentos do dia, como a observação de estrelas ou a experiência de entrar num avião a jato.

Com o pôr do sol a aproximar-se, é tempo de visitar o Castelo de Almourol, isolado numa ilha no meio do Tejo. Diz-se que será pré-romano, de origem lusitana e sabe-se que, no século XII, foi conquistado e entregue aos Templários. Acessível apenas por barco, o castelo oferece uma viagem no tempo. Das margens, a sua silhueta sobre o rio é magnífica a qualquer hora, mas em especial ao fim do dia.

O início da noite marca o regresso a Constância. É onde vamos dormir, na Casa do Rio, pequeno hotel de decoração minimalista de 11 quartos apenas, e que tem uma também pequena mas charmosa piscina de água salgada virada para o rio. Deixamos já uma nota para o pequeno-almoço: muita atenção aos pães e croissants, sempre quentinhos e estaladiços.

Dia 3: Imersão na natureza

Abrimos a manhã com um passeio à beira-rio nesta “vila poema”, como é apelidada Constância.O som da água a correr no Jardim Horto de Camões desperta os sentidos e abre caminho para o longo dia que temos pela frente, desta vez inteiramente dedicado à natureza. O plano é subir o rio Zêzere, o irmão mais novo – mas nunca menos bonito – do Tejo. Partimos precisamente deste ponto, em Constância, onde os rios se juntam.

A primeira paragem é na Aldeia do Mato, banhada pela barragem de Castelo de Bode, uma das maiores do país, com cerca de 60 quilómetros de extensão. A sua praia fluvial pede que se vá a banhos. A água tem reputação de ser quente, sobretudo no verão, quando costuma rondar temperaturas de 24 graus. É de espreitar, também, o belíssimo miradouro no cimo da aldeia. Há outro particularmente bonito um pouco mais a sul, o Miradouro do Cristo-Rei. Requer uma caminhada de 10 minutos para lá chegar, mas o esforço tem recompensa à altura: do seu topo avista-se boa parte da albufeira de Castelo de Bode, com o rio a ziguezaguear pela paisagem.

A poucos quilómetros dali encontram-se os passadiços do Penedo Furado. São imperdíveis. O percurso é circular e tem apenas dois quilómetros, o que elimina boa parte das desculpas para não o percorrer. A imersão na natureza é imediata, com os sons dos pássaros e da água a acompanharem-nos os passos. Durante o caminho, a atenção vai toda para a paisagem em constante mudança. Atravesse a cascata Fonte Cristalina e procure a “Bicha Pintada”, um fóssil com mais de 480 milhões de anos localizado abaixo do miradouro do Penedo Furado.

Para repor energias, passamos no restaurante Ponte Velha, na Sertã, desvio que se prova certeiro – quer pelas iguarias típicas da região, como o bucho e o maranho ao ponto, quer pela apurada sopa de peixe e o bacalhau com broa.

Regressamos pelo rio, descendo pela margem contrária à que subimos de manhã, e muitas são as praias fluviais que surpreendem. Porque o fim de semana é grande, mas, infelizmente, não é eterno, elegemos duas. A primeira é Fernandaires – e o seu espetacular miradouro, com uma vista panorâmica de verde sobre azul, que faz lembrar certas paisagens açorianas. A segunda, para fechar o roteiro com chave de ouro, é a Praia Fluvial do Lago Azul, conhecida pelas águas cristalinas e uma das mais populares entre os locais, quando o calor aperta. É o lugar ideal para atividades náuticas, da canoagem ao stand up paddle. Deixe-se ficar até ao pousar do sol.