Na exposição na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa, o fotógrafo britânico mostra cerca de 120 retratos de personalidades portuguesas captados ao longo dos últimos 35 anos.

O rosto muito sério de José Mourinho a encarar a câmara. A artista Joana Vasconcelos, de perfil, como uma estátua. O cantor Carlos do Carmo a sorrir enquanto lhe retocam a maquilhagem. Paula Rego a “rasgar” o rosto com as mãos, como se fosse uma máscara.

Kenton Thatcher faz retratos desde que se lembra de ter a sua primeira máquina fotográfica, quando era adolescente. Também faz outras coisas, como fotografia de moda e publicidade, mas do que gosta mesmo é de fitar uma pessoa, olhos nos olhos, que pode ser alguém que encontra na rua ou alguém que convida para o seu estúdio, e captar uma imagem que a defina. “O que adoro nos retratos é a psicologia que está por detrás. Na verdade, não estamos apenas a tirar uma fotografia. Tento sempre conhecer quem está à minha frente, seja durante 10 minutos ou duas horas”, explica. “Muitas pessoas, umas mais do que outras, têm uma carapaça e querem dar-nos só essa fachada. Eu tento quebrar essa barreira.”

O fotógrafo britânico mudou-se para Portugal há 35 anos, atraído pelo sol e por um “estilo de vida latino”, e desde então tem fotografado muitas personalidades do país. Do músico Rui Veloso à atriz Rita Blanco, de Jorge Sampaio, presidente da Câmara de Lisboa, a Jorge Sampaio, Presidente da República. Cerca de 120 desses retratos estão a ser mostrados agora na exposição que está na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa, de 29 de março a 26 de abril. Uma exposição onde se poderá perceber bem o que é o “estilo Kenton”: retratos muitas vezes a preto-e-branco e onde o retratado aparece sem contexto, sem estar associado a uma profissão ou a um local, imagens que se querem intemporais.

Com Álvaro Siza esteve durante uma hora e acredita que conseguiu captar a sua energia: “Foi um momento muito especial.” De Rui Nabeiro, que fotografou, em Campo Maior, lembra o sorriso aberto, a generosidade e a paixão com que falava do seu trabalho. De Cristiano Ronaldo recorda o dia em que foi a Manchester fotografar o futebolista para a campanha publicitária de um banco. 

“Fizemos uma sessão num fundo verde, com uma bola de futebol, a história estava contada. Mas, no final, pedi-lhe: podemos fazer uma fotografia só para nós?” Ronaldo vestiu uma camisola de gola alta e encarou o fotógrafo. 

“Ele tinha estado sete horas a fazer um anúncio da televisão e depois esteve mais 40 minutos a fazer uma sessão fotográfica comigo, a cabecear uma bola, estava exausto. Isso nota-se na fotografia. Essa fotografia é bonita por si só, porque não temos o cliché, não temos Cristiano com uma bola de futebol, com um ar muito fresco e um grande sorriso. Estamos a olhar para um miúdo jovem, cansado, mas muito apaixonado.”

“O desafio é conseguir uma imagem, apenas uma, que essa pessoa guarde, que se torne intemporal e que ela recorde daqui a cinco, dez, vinte anos”, diz Thatcher. “Esse é um jogo que faço comigo mesmo. Quero que essa pessoa fique realmente orgulhosa desse momento. E então sinto que consegui alguma coisa ao encontrar-me com ela.”