O problema só podia ser das máquinas… Tanto que era. Nasceu assim a pioneira unidade de assistência técnica, que hoje tanto cura como cria. Rui Lagarto recorda a história com um sorriso nos lábios. “Devíamos estar em 1984 ou 85, por aí. Começou a vir informação de que alguns clientes não conseguiam tirar café em condições. Os lotes vinham devolvidos, mas o problema era das máquinas.” Nessa altura, Rui era um jovem recém-chegado à Delta. Trabalhava no Porto, na área comercial, mas tinha o bichinho da mecânica. Sempre teve. Por isso, quando surgiu a oportunidade de ficar responsável por um novo departamento de assistência técnica aos clientes chegou-se à frente. Não se arrepende.

“Foi muito gratificante ver isto nascer do zero”, diz, enquanto nos guia pelo armazém onde todos os dias se concretiza a visão pioneira de Rui Nabeiro: proporcionar aos clientes todas as condições para tirar o melhor café possível. 

Voltemos atrás. Nesses anos 80 do século passado, a Delta era ainda, apenas e só, uma marca de comercialização de café. As máquinas que faziam com que esse café chegasse em condições às chávenas eram de outras marcas: Brasilia, Cimbali, Faema e por aí adiante. Portanto, os problemas delas não deviam, em princípio, ser problemas da Delta. Mas e se fossem? “O senhor Rui Nabeiro foi pioneiro nesta matéria”, reconhece Rui Lagarto. Ao criar uma unidade em que técnicos e vendedores trabalhavam juntos em prol do cliente, gerou confiança e oportunidades de negócio: como recusar o café de quem garantia não só a matéria-prima mas também uma assistência técnica tão próxima e completa?

 

A TecniDelta nasceu dessa visão. A procura crescente fez com que cada vez mais técnicos se fossem juntando à estrutura até chegarem aos cerca de 300 que hoje estão debaixo da sua alçada. A maioria trabalha nos departamentos locais, fazendo diagnósticos junto dos clientes e executando afinações e reparações mais simples. Os outros estão em Campo Maior, na sede, onde existem duas unidades distintas: numa, fazem-se as reparações; na outra produzem-se as máquinas Mayor, a marca própria da Delta, e desenham-se novos espaços, a partir do zero, graças a uma equipa de arquitetos e projetistas. Se uma é hospital, a outra é maternidade.

Mais uma vez, para que tal acontecesse, foi fundamental a visão do fundador. “Termos a nossa própria máquina era um desejo antigo do senhor Rui Nabeiro. Foi uma maneira de fechar o circuito”, explica Rui Lagarto. E que melhor forma de aproveitar a sabedoria dos técnicos que há décadas reparavam praticamente todas as marcas do mercado? “Tínhamos um conhecimento global, sabíamos que elementos deviam ser mais robustos, mais fiáveis e, claro, levámos esse conhecimento para a nossa máquina.”

 

A primeira Mayor nasceu em 2015 – não existia, até aí, nenhuma outra máquina de café 100% portuguesa no mercado. Desde essa altura, a oferta tem vindo a ser atualizada com frequência: o modelo mais recente – batizado como MAXIMA – foi lançado em novembro último. O design desta nova máquina distingue-se do das restantes: reproduz o do protótipo vencedor do Concurso Nariz do Cavalo, lançado pela TecniDelta a nível nacional em 2015. Um nome escolhido por João Nabeiro, que tem uma explicação simples: nas corridas de cavalos ganha sempre o primeiro nariz a cortar a meta.

Mas onde a MAXIMA brilha verdadeiramente não é por fora, antes por dentro: é uma máquina inteligente, preparada para ser controlada à distância, através de uma app: é possível ligá-la, desligá-la, aquecer as chávenas ou até programar a pré-infusão de três segundos que permite aumentar a qualidade do café servido. A caldeira, em vez do tradicional cobre, é de aço inox, que, segundo Rui Lagarto, “não deixa qualquer partícula na água”. Em breve, a maxima estará preparada para comunicar automaticamente e em permanência os dados de funcionamento à plataforma da TecniDelta. O que é que isto permite? “Que possamos detetar anomalias ainda antes do cliente”, avança Rui.

 

Na linha de montagem conseguem produzir-se 18 a 20 máquinas completas por dia. A assemblagem de certos componentes já vem feita da Prisão de Elvas, um dos estabelecimentos prisionais onde existe um polo da TecniDelta, programa que tem sido um case study de sucesso de reinserção social através do trabalho em meio prisional. “Ao todo devemos ter cerca de 9 mil máquinas em utilização”, contabiliza o responsável. A maioria das máquinas é de dois grupos – cada grupo é o motor que permite a extração do café. Mas há mercados específicos que exigem os três grupos. “Na Grécia, por exemplo, ainda usam muito as máquinas de três grupos.” Outras fazem viagens ainda mais longas, como as amarelíssimas 1720 – modelo anterior à MAXIMA – que foram para a Coreia do Sul: consta que os coreanos têm vindo a adotar com entusiasmo crescente a cultura europeia do expresso.

E pensar que tudo começou porque o café não estava a sair bem.