A designação não existe oficialmente, mas não haverá, porventura, melhor forma de definir o triângulo geográfico que une a capital do Minho, Braga, o berço da nação, Guimarães, e a vizinha zona do Vale do Cávado, na fronteira do Parque Nacional Peneda-Gerês.

Braga

Considerada Destino Europeu do Ano em 2021, Braga tem características paradoxais. É, ao mesmo tempo, a cidade mais antiga de Portugal, fundada pelos Celtas e ocupada pelos Romanos, que lhe chamaram Bracara Augusta, e a capital de distrito mais jovem do país. Esse sangue novo nota-se nas ruas, pejadas de estudantes, famílias jovens em passeio, e, numa tendência mais recente, nómadas digitais, atraídos pela relação baixo custo/alta qualidade de vida da capital do Minho. 

Não lhe faltam, para começar, monumentos incontornáveis. Da vetusta Sé de Braga  “mais antigo que a Sé de Braga” é uma expressão de uso corrente por estas bandas – aos imponentes Santuários da Nossa Senhora do Sameiro e do Bom Jesus, cujos escadórios somam, ao todo, mais de meio milhar de degraus.

O fôlego das subidas e descidas pode ser reposto nos cafés históricos. A Brasileira e o Vianna são os mais conhecidos, pontos de encontro incontornáveis para anónimos e  ilustres como Eça de Queiroz ou Camilo Castelo Branco. 

Ilustre é também o bacalhau à Braga, ou à Narcisa, nascido no restaurante com esse nome – entretanto encerrado – servido um pouco por toda a cidade. Em clássicos como O Arcoense ou o Bem-Me-Quer é possível combiná-lo com outros ícones gastronómicos da região como os rojões ou o pudim Abade de Priscos, cujo açúcar dará a energia necessária para explorar a arquitetura contemporânea da cidade: dos projetos marcantes de Eduardo Souto de Moura, casos do famoso Estádio Municipal, vulgo Pedreira, ou o atual Mercado Cultural do Carandá, a outros, menos mediáticos, como o Maison826, que une salão de cabeleireiro, concept store e espaço cultural ou a curiosíssima Capela Árvore da Vida, que faz parte do Seminário de Santiago, no largo homónimo, e pode ser visitada todas as sextas-feiras à tarde.

Guimarães

Apesar de hoje não fazer sequer parte do top 10 das cidades portuguesas mais populosas, o estatuto de berço da nação ninguém lhe tira. Guimarães foi a primeira sede do Condado Portucalense e – como indica a maioria das teses – o local de nascimento de Dom Afonso Henriques, presume-se que em 1109. Não espanta, por isso, que o seu bem conservado Centro Histórico seja Património Mundial da UNESCO.

É um prazer passear pelas ruas estreitas, de traçado medieval, e ir descobrindo, aqui e ali, fachadas góticas e quinhentistas, varandas de madeira em balaústres e edifícios que fizeram história, como os antigos Paços do Concelho ou o atual Museu de Alberto Sampaio, que ocupa o primeiro Mosteiro da cidade e guarda 12 objetos únicos, considerados Tesouros Nacionais, entre eles o cálice de Dom Sancho I ou o Tríptico da Natividade, oferecido pelo rei Dom João I, em sinal de gratidão pela vitória alcançada na Batalha de Aljubarrota.

Se passear nas ruas é um prazer, vê-las ao longe não é menos prazeroso. Sobretudo a partir da Montanha da Penha, acessível por uma curta viagem de teleférico. Ali encontra-se o pulmão da cidade, uma área verde com cerca de 60 hectares, o Santuário homónimo e um restaurante panorâmico – do antigo Hotel da Penha – onde se comem uns famosíssimos filetes de pescada. 

Os arredores da cidade merecem igual atenção. A belíssima Casa de Sezim, por exemplo, é uma excelente opção de alojamento. Os jardins e as vinhas impressionam, mas o papel de parede que reveste a casa principal não impressiona menos.

A dez minutos de viagem, fica o incontornável São Gião, um dos restaurantes mais afamados do Minho, liderado pelo carismático Pedro Nunes, onde a sopa rica de peixe ou as tripas à moda da casa têm adeptos por esse país fora. Sem esquecer, claro, a sua sobremesa mais conhecida: canilhas com leite-creme.

Póvoa de Lanhoso

A estrada que nos leva de Guimarães até à Póvoa de Lanhoso passa junto às Ruínas da Citânia de Briteiros, um povoado pré-romano, que data do final da Idade do Bronze, início da Idade do Ferro, e que é um dos exemplares mais notáveis do género em toda a Península Ibérica. É possível visitá-lo e, com a ajuda de um mapa fornecido à entrada, deambular pelos arruamentos imaginando como seria a vida naqueles tempos. 

Noutros tempos que não nesses nem os de agora aconteceu também na Póvoa de Lanhoso a famosa Revolta da Maria da Fonte, contra o liberalismo, iniciada por algumas mulheres locais, lideradas por essa figura mítica, e que levou à queda do governo de Costa Cabral. No Centro Interpretativo Maria da Fonte é possível ficar a conhecer melhor este episódio marcante da História de Portugal e toda a iconografia associada. 

Na vila minhota ergue-se também um dos mais antigos castelos portugueses. O Castelo de Lanhoso está documentado desde os tempos da chamada Reconquista do Norte, ainda antes da formação do reino de Portugal. Foi nele que D. Afonso Henriques terá mandado encarcerar a própria mãe, D. Teresa, depois da Batalha de São Mamede, antes de esta se exilar na Galiza.

Mas a maior razão das peregrinações a Póvoa de Lanhoso – ou à pequena aldeia de São João de Rei, nas suas imediações – não se chama nem Maria nem Afonso, antes O Victor. Vítor Peixoto é o homem à frente deste restaurante icónico, onde o ex-líbris é uma receita tão simples como divinal: bacalhau assado com batata a murro. A posta vem alta, bem assada na brasa e generosamente regada com azeite. Além do fiel amigo, há carnes diversas, também de boa qualidade, e excelentes sobremesas caseiras para as quais se impõe reservar algum espaço no estômago.

Fafe

A viagem entre Guimarães e Fafe pode ser feita de bicicleta, numa Ecopista que aproveita o traçado da antiga linha ferroviária que unia as duas cidades. O percurso, de cerca de 15 quilómetros, atravessa zonas rurais e florestais, sem grandes desníveis de altitude, com bom piso e uma (boa) particularidade: em todas as interseções com vias rodoviárias a prioridade é dada aos ciclistas.

À chegada a Fafe é impossível não reparar em duas coisas. A primeira: a grande maioria dos restaurantes da cidade serve vitela assada, a mais célebre receita local. A segunda: uma série de edifícios apalaçados, construídos, no século XIX, por emigrantes regressados do Brasil. As Casas dos Brasileiros, como são conhecidas, distinguem-se pelas fachadas amplas, revestidas a azulejos coloridos, pelas estruturas ornamentadas de ferro que resguardam as varandas e os jardins que misturam palmeiras e árvores de fruto. Entre elas incluem-se o atual Arquivo Municipal, a Casa do Santo Novo, o Jardim do Calvário e o belíssimo Teatro Cinema.

No verão, é essencial fazer a curta viagem da cidade até à Barragem da Queimadela. A respetiva albufeira tem uma enorme área de lazer, com um parque aquático de insufláveis inserido na praia fluvial. 

Também nos arredores de Fafe, mas na direção de Cabeceiras de Basto, encontra-se a famosa Casa do Penedo, que ostenta, com orgulho, o título de “casa mais estranha do mundo”. O que não é de estranhar, passe a redundância, já que foi construída entre quatro rochas gigantes que são parte integral da sua estrutura. É possível visitá-la, ficando a saber mais sobre a sua história e arquitetura e, em breve, será também possível dormir no seu interior. A tranquilidade do local só é perturbada durante o Rally de Portugal. É que logo ali ao lado fica o famoso Salto da Pedra Sentada, parte de um dos troços mais conhecidos da prova, onde os amantes da modalidade se juntam para ver os bólides voar baixinho durante a competição.