Aqui, o tempo não corre, anda muito lentamente, para que se possa apreciar com prazer a vista de cada recanto, a frescura de cada golfada de ar puro ou o sabor de cada dose de chanfana, maranhos ou cabrito estonado, os ex-líbris da gastronomia local.

Talasnal

As imagens que mais frequentemente ilustram o conjunto das Aldeias do Xisto pertencem ao Talasnal, aglomerado de cerca de 70 casas que parece ter sido esculpido à mão por um artista talentoso num dia em que estava particularmente inspirado. 

Neste pequeno tesouro cravado na encosta da serra da Lousã, a 500 metros de altitude e com vista privilegiada para o castelo local, as ruas e as casas estão tão bem tratadas que quase se estranha a ausência de habitantes permanentes. Mas é verdade: não mora ninguém no Talasnal há já várias décadas. 

Os habitantes da aldeia foram sendo progressivamente substituídos por turistas e as suas casas restauradas de acordo com a traça original para servirem hoje de habitações de fim de semana, alojamentos locais ou pequenas lojas e restaurantes. Entre eles contam-se, por exemplo, o afamado Ti Lena, onde, mediante reserva, se podem provar alguns pratos tradicionais desta região, caso da chanfana, servida em pote de barro como manda a lei, ou do cabrito assado com batatas e arroz de miúdos. No vizinho O Retalhinho, destaque para os doces talaniscos, os pastéis típicos da terra, à base de mel e castanha. A natural aquisição de calorias pode ser combatida nos diversos trilhos pedestres marcados na serra e que são a melhor forma de descobrir a fauna e flora locais.

Cerdeira

Se é verdade que não faltam opções de alojamento nas diversas Aldeias do Xisto, também é verdade que a Cerdeira será, porventura, a mais especial de todos elas. Porque boa parte das casas da aldeia, em tempos devolutas, formam hoje uma unidade de turismo rural e residências artísticas onde tanto se promove o descanso e o lazer como a criatividade e a aprendizagem, com uma forte componente de sustentabilidade ecológica. Não é por acaso, aliás, que este projeto dá desde 2018 pelo nome de Cerdeira – Home for Creativity.

Tudo começou quase por acaso. Em 1988, Kerstin Thomas e Bernard Langer passeavam na serra da Lousã munidos de mapas militares, quando se depararam com uma aldeia vazia e devoluta. Foi amor à primeira ruína. O casal de alemães decidiu identificar os proprietários daquelas casas e, apenas cinco meses depois, estavam a instalar-se no local. Com a ajuda de amigos, foram recuperando a aldeia na totalidade até lhe darem, de novo, vida própria.

Hoje, a Cerdeira tem nove casas disponíveis para alojamento com diferentes tipologias, uma residência para artistas que também pode ser arrendada à cama ou na totalidade – tem capacidade para 12 pessoas –, uma série de oficinas criativas de olaria, cerâmica, gastronomia ou carpintaria e cursos de maior duração inseridos na chamada Escola de Artes e Ofícios. 

Ferraria de São João

Dizem que é a aldeia com mais pedalada de toda a rede das Aldeias do Xisto. A alcunha deve-se ao facto de ser muito apreciada pelos praticantes da modalidade, o que levou à instalação de um grande Centro de BTT à entrada, com estação de serviço. Ali é possível lavar e reparar as bicicletas, e existem ainda balneários de apoio para os ciclistas. Dali é também possível explorar diversos percursos assinalados – com diferentes níveis de dificuldade – que oferecem vistas panorâmicas sobre os vales e as aldeias em redor, com destaque para aquele que culmina no imponente Miradouro de São João do Deserto.

Mas aqui importam tanto as duas rodas como as quatro patas. É verdade: na Ferraria de São João, os currais comunitários são sinal da grande tradição, ainda em vigor, da criação de gado caprino, cujo leite é utilizado na produção de queijo (sobretudo fresco). E os veados selvagens são também visita habitual das redondezas, fruto do programa de reintrodução da espécie na serra da Lousã, iniciado há mais de duas décadas.

A observação destes animais é uma das atividades propostas pelo projeto turístico (e bike friendly) Casas do Vale do Ninho, que surge da transformação de antigas estruturas de pedra e palheiros locais em três casas – dois estúdios e uma villa independente, com direito a piscina e horta biológica.

A curta viagem até Penela, sede do município, é obrigatória para experimentar a cozinha da dona Minda no Dom Sesnando, cuja ementa é um autêntico tratado da gastronomia local.

Candal

Espraia-se por uma espécie de anfiteatro natural bastante inclinado, numa encosta da serra da Lousã virada a sul. O esforço despendido ao subir as rampas e degraus das suas ruas é recompensado pela vista que, do topo, se consegue para a aldeia e ribeira homónima. Pela localização – fica junto à Estrada Nacional 236, que liga Lousã a Castanheira de Pêra – Candal é menos isolada e, por isso, mais desenvolvida do que as suas vizinhas. Não se espere, porém, encontrar grande rebuliço: hoje vivem ali menos de uma dezena de habitantes permanentes. As casas são, na sua grande maioria, de segunda habitação ou alojamento local e, por essa razão, a aldeia enche-se sobretudo na época alta, altura em que também se enche o seu único restaurante, Sabores da Aldeia, onde têm primazia os pratos de forno com produtos locais. 

Nos arrabaldes, um desvio assinalado encosta abaixo guia os mais aventureiros até à volumosa cascata do Candal: atenção, o percurso exige calçado adequado, já que o desnível e as pedras escorregadias podem ser muito traiçoeiras. 

O Candal é, também, um bom ponto de partida para explorar atrações vizinhas, como o famosíssimo Baloiço do Trevim, no ponto mais alto da serra da Lousã, ou os Passadiços da Ribeira do Quelhas, inaugurados este ano, com partida junto à aldeia do Coentral e passagem por várias cascatas e lagoas. As condições climáticas – o inverno costuma ser rigoroso por estas bandas – podem, no entanto, limitar a circulação no local.