Apesar de ser muitas vezes considerado um destino de turismo sénior, devido às paisagens idílicas, campos de golfe e hotéis onde se toma o chá das cinco em varandas viradas para o Atlântico, o arquipélago da Madeira é, na verdade, muito versátil na sua oferta e capaz de proporcionar emoções fortes e memórias bonitas nos mais diferentes cenários: seja em falésias e levadas, no mar ou à mesa.

Funchal

A capital da Madeira é uma metrópole considerável, encaixada numa vistosa baía virada a sul. Tem mais de cem mil habitantes permanentes e recebe outros tantos milhares anualmente, que ali investem boa parte da sua estadia no arquipélago. 

O rebuliço começa cedo na zona em redor do Mercado dos Lavradores. A visita é imprescindível, tão imprescindível como não cair na cantiga de alguns vendedores, que inflacionam os preços e adoçam as frutas. É preferível explorar as bancas de pimentas, no piso superior, ou a zona do peixe onde não raras vezes se veem enormes atuns a ser desmanchados. 

O clima subtropical convida, na grande maioria dos meses, a prosseguir o dia com mergulhos no mar temperado. No Funchal não faltam complexos balneares de referência – o mais charmoso talvez seja aquele que está instalado na Doca do Cavacas, na zona de São Martinho, entre as conhecidas praias Formosa e do Lido. No restaurante homónimo há bom peixe e marisco, entre petiscos e pratos mais substanciais, para acompanhar os mergulhos.

Apanhar o Teleférico do Monte é a melhor forma de ter uma vista panorâmica sobre a cidade, a mais de 500 metros do chão, no conforto de uma cabine envidraçada. O teleférico liga o centro à parte mais alta da cidade, o Monte, onde fica o Jardim Tropical Monte Palace. Ali, espalhada por sete hectares, existe uma das mais ricas coleções de plantas e espécies arbóreas a nível nacional. Para descer, nada como seguir a tradição e deslizar ladeira abaixo em cestos de vime, cortesia dos Carreiros do Monte. 

A experiência costuma abrir o apetite, que pode ser saciado num dos dois restaurantes de Júlio Pereira, chef oriundo da zona da Ericeira mas radicado na Madeira há quase duas décadas: o Kampo é mais dedicado às carnes e sabores da terra e o irmão mais novo, Akua, debruça-se sobretudo nos sabores marítimos.

Costa Norte

É a costa menos explorada e, por essa razão, a mais selvagem da Madeira, com um clima ligeiramente menos quente e mais húmido do que o da Costa Sul. No Norte da Madeira não há quaisquer cidades, mas apenas pequenos aglomerados populacionais dispersos pelos locais onde a geografia permitiu que edificassem casas. De oeste para leste, o primeiro deles é Porto Moniz, vila conhecida sobretudo pelas suas Piscinas Naturais. 

Muito perto dali, junto à praia do Seixal, provam-se as que Ernesto Fernando, proprietário do Lounge Bar do Clube Naval, garantem ser “as melhores lapas da Madeira”. E ele percebe do assunto, já que passou a infância a apanhá-las, antes de emigrar para a Venezuela, onde ficou mais de 30 anos. 

Por falar em lapas, outro local onde se comem a preceito é no restaurante A Pipa, no Porto da Cruz. Tanto na chapa, à madeirense, como no tacho, servidas nesse caso com um arroz caldoso que exige reserva antecipada. Vale a pena fazê-la.

A refeição pode ser digerida com uma visita à fábrica de aguardente de cana conhecida como Engenhos do Norte, também no Porto da Cruz. É a única da Europa que ainda trabalha com máquinas a vapor e é especialmente cativante vê-las em ação entre março e maio, altura em que é processada a matéria-prima, a cana-de-açúcar.

Outra tradição desta zona prende-se com a construção de casas com cobertura de colmo. As Casas Típicas de Santana, como são conhecidas, estão em vias de extinção, mas ainda se encontram nesta costa alguns exemplares que servem de habitação própria. Outras há que podem ser visitadas gratuitamente.

Ao longo da Costa Norte não faltam, também, pontos ideais para contemplar a paisagem. Um dos mais bonitos é o chamado Miradouro do Guindaste, onde em dias de boa visibilidade se consegue vislumbrar, até, a ilha do Porto Santo, a mais de 40 quilómetros de distância.

Este / Oeste

Tomando o Funchal como ponto de partida, não faltam motivos de interesse tanto para um lado como para o outro. Para oeste, a primeira paragem é na cidade piscatória de Câmara de Lobos, eternizada por uma pintura de Winston Churchill feita em 1950, a partir do miradouro que hoje tem o seu nome. 

Continuando na mesma direção, encontra-se o miradouro do Cabo Girão, que fica no segundo promontório mais alto do mundo, a 580 metros. A descida à Fajã dos Padres ou ao Calhau da Lapa – no Campanário – é recompensada com um dia inteiro a banhos e petiscos.

Na zona da Ponta do Sol, a mais soalheira de toda a ilha, é imperdível a passagem pela famosa Cascata dos Anjos, que verte o seu caudal para o meio da estrada, criando um cenário inaudito. Na mesma estrada (ER 101), começa um dos seis Caminhos Reais da Madeira, trilhos que proporcionam perspetivas inéditas sobre algumas das paisagens mais bonitas da ilha.

Cortando para dentro vai dar-se ao coração da Floresta Laurissilva, morada do Rabaçal Nature Spot Café. Fica num dos dos vales mais bonitos da ilha, com uma mão-cheia de percursos pedestres que atravessam o verdejante da floresta húmida subtropical.

Já para leste, a primeira paragem obrigatória é na Ponta do Garajau, onde se pode admirar o Cristo-Rei madeirense – mais antigo que os congéneres de Almada e do Rio de Janeiro – e descer no teleférico para ir a banhos na praia homónima.

A apenas dez minutos de distância para norte, os Jardins do Palheiro são de visita muito recomendável, principalmente entre novembro e abril, a época em que as camélias estão em flor.

Daí até à Ponta de São Lourenço é um pulinho. Passa-se por Machico, terra de praia dourada, com areia importada de Marrocos, o Caniçal, porto de onde saem os barcos da pesca de atum, até se chegar ao extremo oriental da ilha, zona de Reserva Natural que deve ser explorada pelo trilho assinalado até ao chamado Cais do Sardinha, onde é possível celebrar o final do percurso com um mergulho.

Porto Santo

Tempos houve em que a forma mais rápida de chegar à Madeira, a partir do Continente, implicava voar até ao Porto Santo e completar a ligação por via marítima num cacilheiro com bancos de avião, operado pela tap. Nessa altura, o Hotel Porto Santo & SPA era a única opção de alojamento disponível na segunda ilha do arquipélago. O hotel conserva alguns dos traços modernistas que o tornaram célebre na época – apesar do incêndio que obrigou à sua reconstrução em 1974 – e um spa onde é possível fazer tratamentos de geomedicina, como a terapia de areias quentes, que tira partido das propriedades medicinais das areias da principal praia local. 

Essa praia, com águas que vão dos 20 aos 25 graus, e nove quilómetros de extensão, termina na chamada Ponta da Calheta, no vértice sudoeste da ilha, onde as piscinas naturais formadas entre as rochas oferecem boas oportunidades de banhos. Aos bons petiscos da esplanada local (O Calhetas) juntam-se ainda os passeios de caiaque até ao vizinho Ilhéu da Cal, a cargo da Porto Santo Destination Tours.

Outros passeios fazem-se em terra, como aquele que leva ao topo do Pico de Ana Ferreira, onde os madrugadores conseguirão obter uma vista privilegiada sobre o nascer do sol porto-santense, ou a Vereda do Pico Branco e Terra Chã, um percurso de 2,7 quilómetros (para cada lado) que oferece um sortido de paisagens, da aridez das montanhas ao infinito do oceano.

Para retemperar forças, não faltam boas opções para comer. A espetada do Teodorico é essencial, mas também se recomendam o maravilhoso bolo do caco do restaurante Torres, as sanduíches de gaiado seco, polvo ou escabeche de atum que o senhor Rodrigues prepara diariamente no Golfinho, as chamuças atrevidas d’O Girassol e, claro, clássico dos clássicos, os sabores do dia na Lambecas, geladaria que é uma autêntica instituição do Porto Santo.