Pegaram na oficina e nas ferramentas que herdaram da família e emprestaram à marcenaria de outros tempos uma nova roupagem, mais moderna e arrojada, tanto nos objetos que produzem como na forma de os comunicar.

Margarida Cunha e Tiago Pereira Borges, de 29 e 30 anos, são o rosto da quinta geração de marceneiros da família Pereira. São, contudo, a primeira geração de marceneiros-rockstars. Com uma infância passada entre oficinas e uma longa tradição familiar tanto na produção artesanal de mobiliário e peças em madeira quanto em restauro, não foi surpresa para ninguém quando, em 2016, Tiago foi para Inglaterra tirar uma especialização em marcenaria. Foi por lá que o caminho a seguir se tornou claro. “Percebemos que havia espaço no mercado para um projeto que apostasse na qualidade e na exclusividade das peças”, recorda o casal. Um ano mais tarde, de regresso a Portugal, arregaçaram as mangas e decidiram dar “uma volta” ao negócio do avô de Tiago.

Margarida e Tiago, que se conhecem desde os tempos de liceu, chegaram a viver e a trabalhar no Reino Unido antes de fazerem nascer a Marcenaria Artística Pereira.

Com as mesmas ferramentas que utilizava o mestre Soares Pereira – como ainda hoje gostam de o mencionar –, Margarida e Tiago reergueram a sua antiga oficina, situada em Colares, nos arredores de Lisboa. Assim nasceu, em 2017, a Marcenaria Artística Pereira.

Tiago ficou responsável pela produção e Margarida pela gestão do projeto. Formada em Comunicação Social e Cultural, e igualmente apaixonada por marcenaria, Margarida sabia que para marcar a diferença era preciso apostar na marca e fazê-la chegar ao público. Fala com particular orgulho da atenção dada ao atendimento aos clientes, mas também da forma como comunicam com estes e com o público em geral. Com mais de seis mil seguidores no Instagram, é por lá que vão partilhando os trabalhos desenvolvidos na oficina, da marcenaria ao restauro, das peças em série às que são únicas. “Quem nos segue gosta de ir vendo o processo de produção”, refere.

Um ano passado sobre o nascimento da marca, a pequena oficina onde trabalhavam teve de dar lugar a uma maior. Não foi necessário ir muito longe. Tiago e Margarida encontraram um armazém a poucos quilómetros do lugar de origem, em Algueirão, com mais de 700 metros quadrados, e mudaram-se de armas e bagagens – leia-se: madeira e ferramentas – para lá. Passou a ser esse o posto de trabalho para mais quatro marceneiros a tempo inteiro e outros quatro que, periodicamente, se juntam à equipa para dar resposta a encomendas maiores.

Apesar de hoje recorrerem a algumas máquinas com que os seus antepassados nem sequer sonhavam, na escolha dos materiais e acabamentos mantêm-se fiéis às origens. A madeira maciça é invariavelmente a primeira escolha. “Queremos manter viva a tradição da marcenaria portuguesa, que sempre privilegiou os materiais nobres e duradouros, e inovar no design.” É por isso que a equipa da Marcenaria Artística Pereira trabalha regularmente com arquitetos e designers, que os estimulam a criar objetos novos e diferentes. Entre mesas de jantar, cadeiras, secretárias, portas, janelas, estantes e roupeiros, só não se faz o que não se imaginar.

E foi desse desafio à imaginação que surgiu, em 2018, a colaboração com a Delta Q. A marca queria criar caixas dispensadoras de cápsulas de café originais e desafiou estas rockstars da madeira. “Queriam uma peça em madeira por motivos ambientais e procuravam materiais de qualidade, o que nos fez logo sentir que estávamos alinhados”, recordam Margarida e Tiago. A partir de fevereiro de 2020, a equipa de marceneiros começou a projetar opções e, depois de muitas experiências, acabou por avançar para a madeira maciça de freixo.

Entre desenhos, protótipos e produção, o processo de fabrico levou mais de três meses e contou com a participação da Delta Q, que, explicam, “estava investida em criar connosco um bom produto”. Margarida ressalva o cuidado com o detalhe, presente nos encaixes e nas direções dos veios da madeira, bem como no facto de as pequenas peças terem sido coladas para que não houvesse tendência ao empeno. “Depois de terminadas, parecem peças singelas; mas por detrás delas está muito trabalho e empenho. Ficámos mesmo contentes com este resultado.”