Há 12 anos que o Grupo Nabeiro traz simplicidade ao chá como distribuidor exclusivo da Tetley em Portugal – e agora também em Espanha. A sua complexidade, história e mística conseguem fazer do chá uma bebida intimidante. Mas nem todas as perguntas ficam respondidas com instruções de preparação na embalagem e uma saqueta de chá. Ou devemos dizer infusão? 

 

A que temperatura se deve fazer o chá?

A temperatura da água na preparação do chá é um dos fatores com mais impacto no sabor final. Água com uma temperatura muito forte aniquila os sabores mais delicados. O chá preto e as infusões de plantas e raízes devem ser feitas a 100 ºC. O chá verde, branco e oolong deve ser preparados a cerca de 80 ºC. É normal que não queira envolver um termómetro no assunto: desligue o jarro elétrico pouco antes de a água ferver; se a água já ferveu, espere um ou dois minutos antes de começar a preparação.

 

Posso usar água da torneira?

Sim, mas de preferência filtrada, para que sejam retirados vestígios de cloro, calcário e outros minerais que podem interferir com o sabor final. Evite também água que ficou na chaleira elétrica e já foi reaquecida. Essa água já não tem oxigénio, que dará sabores mais complexos à sua caneca.

Quanto tempo deve demorar a infusão?

Folhas inteiras de chá levam cerca de três minutos a dar o melhor das suas cores e sabores. No caso de as folhas serem partidas, podem demorar menos tempo a preparar um bom chá – confirme o tempo na embalagem.

 

Como sei se o chá ficou bem feito?

Os chás devem ter sabores complexos e agradáveis. Tal como os vinhos, têm notas de prova diferentes no nariz, no primeiro gole ou no sabor que deixa na boca. Se sente apenas sabores amargos e ásperos, talvez a água estivesse demasiado quente ou as suas folhas tenham ficado demasiado tempo a infusionar.

 

Posso reutilizar as folhas?

Sim, especialmente se forem chás de folha inteira e de boa qualidade. Alguns estilos são mais propensos a repetidas infusões. Por exemplo, as folhas do chá puerh, que tiveram algum nível de envelhecimento, aguentam várias preparações e cada uma delas revela sabores diferentes, o que pode proporcionar uma viagem interessante. As folhas dos chás verde e preto também podem ser reutilizadas, mas não por mais de duas ou três vezes. No caso das infusões de flores ou ervas aromáticas, é provável que não tenham força para sabores bem presentes quando usadas uma segunda vez. Nada como experimentar.

Posso reaquecer o chá?

A questão deve ser: quero mesmo reaquecer chá? Os sabores vão ser alterados, assim como as características químicas do chá – polifenois e antioxidantes degradam-se. O melhor será prevenir-se. Pré-aqueça a chaleira ou a chávena em que o vai servir: isso garante que a temperatura da água não desce abruptamente durante a infusão e vai manter a sua bebida mais tempo a uma temperatura reconfortante.

 

Matcha é um chá ou uma tisana?

O matcha é um chá. É feito a partir de folhas de Camellia sinensis com técnicas desenvolvidas originalmente no Japão. As folhas crescem na sombra de forma a produzirem níveis superiores da clorofila, o que lhes dá o verde intenso. O seu processamento é semelhante ao do chá verde, mas, depois de secas, as folhas são moídas até ficarem um pó fino.

 

Qual a diferença entre chá, tisana e infusão?

O segredo está na planta de origem. Formalmente, o chá é feito apenas a partir das folhas da planta Camellia sinensis. São estas as folhas que, depois de colhidas e transformadas, nos darão o chá verde e o preto, entre outras variedades. Tudo o resto são infusões ou tisanas, duas expressões para o mesmo: a extração de sabor e propriedades de plantas ou raízes através de água quente. Camomila, cidreira, menta, lúcia-lima ou outras mais apreciadas noutras paragens, como alcaçuz e rooibos, têm o seu papel cultural e podem ter propriedades saudáveis. Muito importante: podem ser bem saborosas.

O que dá as cores verde, branco ou preto ao chá?

São todos feitos a partir das folhas da Camellia sinensis. As cores vêm dos processos de transformação por que passam depois da colheita. O chá branco é simplesmente seco e tem os sabores mais subtis e delicados; para o verde, as folhas são aquecidas rapidamente durante o processo de secagem, para preservar a cor, e podem obter uma larga gama de sabores florais e ligeiramente adstringentes; o chá preto adquire a sua cor escura graças a uma forte oxidação das folhas, que são enroladas ou até rasgadas para promover essa oxidação. Este processo dá ao chá preto o seu sabor pungente (que os ingleses gostam de atenuar com leite). Há diversas interpretações dos processos que levam a cada um destes estilos de chá, consoante a região e o produtor – como nos vinhos, o terroir tem influência na bebida final. Note- -se que, apesar de estes serem os três tipos mais famosos, há outros, como o chá oolong (com oxidação entre o verde e o preto) ou o puerh (maturado, depois de oxidado).

 

O chá tem cafeína ou teína?

Tanto a cafeína como a teína têm a mesma molécula: a metilxantina. No entanto, no chá a sua concentração varia muito (está mais presente no preto do que no branco, por exemplo) e está ligada a outros compostos químicos, o que muda a forma como é absorvida pelo corpo humano. Enquanto a absorção a partir de uma chávena de café é rápida, tendo um efeito estimulante, quando bebemos uma chávena de chá estamos a ingerir também L-teanina, um aminoácido de efeitos relaxantes, entre outras moléculas complexas que retardam a absorção da metilxantina. Perdão: da teína.

 

Chá à noite acalma ou atrapalha o sono?

Chás com menos metilxantina serão mais apropriados. Alguns estudos indicam que o chá verde, graças aos seus níveis elevados de L-teanina, pode melhorar o sono e relaxar o corpo (o chá matcha tem este aminoácido concentrado). Vale a pena lembrar tisanas como a camomila, conhecida popular e cientificamente pelo efeito calmante.

Folhas soltas ou saquinhos?

Em chás de baixa qualidade, o sabor do papel pode ser transferido para a bebida. Também é determinante o tamanho das folhas a infusionar – sejam soltas ou em sacos. Os chás de folhas grandes têm mais tonalidades de sabor e podem ser reutilizados para mais do que uma infusão. Ao estarem muito partidas, as folhas darão aromas menos subtis e potencialmente mais adstringentes.

 

Quem inventou o chá?

Não sabemos. A lenda diz que o imperador chinês Shennong, uma espécie de padroeiro da agricultura, terá provado a infusão de uma folha de camélia caída numa chávena de água quente, cerca de 2000 anos antes de Cristo. Mitos à parte, há indícios do uso do chá na Ásia durante a Dinastia Shang (entre 1600 e 1046 a.C.) e manteve-se ao longo da história com uma das bebidas mais consumidas do mundo.

 

Os Açores são mesmo o único sítio da Europa que produz chá?

Não. Nem sequer são a única zona onde se produz chá em Portugal: há uma plantação de chá em Fornelo, Vila do Conde. A plantação da Gorreana em São Miguel é, no entanto, uma das mais antigas do continente: no século XIX foi bem- -sucedida na tentativa de produzir chá na Europa. Mas houve outras, por exemplo, no Cáucaso. Hoje, a produção de chá na Europa acontece em áreas de microclima propício – como Cornwall, no Reino Unido.

Porque se bebe tanto chá na Ásia?

O continente asiático está cheio de regiões com as condições ideais para o cultivo da Camellia sinensis: temperaturas constantes ao longo do ano, verões húmidos sem sol escaldante, invernos soalheiros. É também o continente onde o conhecimento sobre os preceitos de produção do chá se desenvolveu e, como consequência, o seu valor cultural é imenso. São milhares de anos de chávena na mão.