A primeira pergunta que assalta qualquer pessoa quando olha para a nova máquina RISE é: como é que surgiu o convite a Philippe Starck e como é que o convenceram a aceitar?

Já tínhamos uma máquina desenvolvida pela Diverge [o centro de inovação do Grupo Nabeiro], que era muito bonita e elegante, mas eu sentia que faltava alguma coisa. O sistema RISE era demasiado inovador para ser apenas mais uma máquina. Certo dia, no final de uma reunião na EDP, o [então CEO] António Mexia disse-me que o nosso café era extraordinário e as nossas cápsulas muito boas, mas que nos faltava uma coisa: um design de máquinas tão bom ou melhor do que a nossa concorrência mais famosa.

 

E o que lhe respondeu?

Que estávamos a trabalhar todos os dias para termos um design mais contemporâneo; que temos uma equipa cada vez melhor na nossa área de inovação; que estamos a aprender e a evoluir. Ele respondeu-me: “Vocês precisam de uma máquina desenhada pelo Philippe Starck.” Eu ri-me, disse-lhe que me parecia muito bem, mas que não conhecia o Starck, nem sabia como o contactar. Respondeu-me: “Mas eu sei, sou amigo dele.”

A transformação do sistema RISE num produto doméstico, um eletrodoméstico, ocupou os últimos quatro anos do processo de desenvolvimento.

E passou-lhe o contacto.

No dia seguinte, deu-me o email da Jasmine Starck, que é a mulher do Philippe. Escrevi-lhe de imediato, e em 15 minutos respondeu-me a dizer “olá”, que o António já os tinha avisado de que iriam receber um email meu, e a perguntar quando é que nos podíamos encontrar. A partir daí fomos trocando mensagens por WhatsApp para tentar combinar uma data. O António Mexia teve um papel importante. A vida é feita disto, de networking, de amigos que apresentam amigos.

 

Quando foi isso?

Foi há cinco anos, depois de lançarmos o sistema RISE na Web Summit de 2017. No dia 23 de dezembro desse ano eu e a Cláudia Figueira [Head of Innovation da Diverge] fomos a casa do Philippe Starck em Cascais. Levámos uma apresentação preparada com muito cuidado. No nosso entendimento, estávamos ali para fazer um pitch. Apresentámos a Delta e a RISE, e levámos um protótipo de madeira que tirava café de baixo para cima.

 

Como correu essa primeira reunião?

A Cláudia, que toda a vida trabalhou no mundo do design, estava uma pilha de nervos, por ser o Philippe Starck. Mas ele e a Jasmine foram extremamente simpáticos connosco. Receberam-nos muito bem. Disse-lhe que gostávamos que ele desenhasse não uma máquina de café, mas “a” máquina de café. Porquê? Porque tínhamos um sistema completamente inovador. Mostrámos-lhe o café a subir da máquina de madeira que tínhamos levado e a reação dele foi “uau!”. Chamou logo os filhos e a empregada, juntou-se uma data de gente na cozinha para ver o sistema RISE a funcionar. Nesse momento soube que ele ia aceitar o projeto.

 

Qual foi o passo seguinte?

Fomos a Paris negociar o acordo. Foi bastante rápido e simples, porque ele tinha muita vontade de pegar no projeto.

 

A reunião seguinte foi nos escritórios da Diverge?

Sim. Ele fez questão de vir ter connosco, ao Parque das Nações, para a primeira reunião. Foi espetacular, porque desenhou a máquina logo ali. O resultado final ficou muito próximo desse primeiro esquisso. Fazia perguntas sobre pormenores técnicos e ia desenhando de acordo com as respostas. E explicava que esta máquina era um glorificador do café, que é por esse motivo que tem esta forma.

A equipa da Diverge interveio sobre esses esquissos?

Houve um conjunto de reuniões de preparação e muita interação com a Diverge. O Starck tem uma equipa de designers e engenheiros, mas optou por trabalhar directamente connosco. Foi tudo tratado entre ele e a equipa da Diverge, que ficou radiante.

 

Quem escolheu as três cores da RISE Delta Q with Starck?

Foi ele. Também escolheu as cores. Apenas lhe dissemos que o preto e o branco são importantes para nós, que 90% das nossas vendas em Portugal são de máquinas com essas cores. Ele depois escolheu uma terceira cor, entre tijolo e terracota. E fez questão que o cabo fosse cor de laranja nas três versões da máquina. Era importantíssimo para ele que fosse assim. Gosta muito dessa cor.

 

O copo foi evoluindo com o tempo?

Ele desenhou o copo de vidro logo na primeira reunião. O que foi evoluindo com o tempo foi o copo de cerâmica, porque é um material mais difícil de fundir com o plástico [a abertura no fundo dos copos é de plástico]. Houve um processo evolutivo para conseguirmos ter um copo em cerâmica, que era importante, dada a tradição da indústria em Portugal.

 

Mas para já só os copos de vidro estão disponíveis.

A máquina vai ser vendida com um pacote de oferta de quatro copos de vidro, mas em breve vamos ter também copos de cerâmica.

 

Trabalhar com um designer desta dimensão também está relacionado com a estratégia de crescimento internacional da Delta?

Absolutamente. É uma maneira de amplificar a marca. O Starck é uma figura muito conhecida em França, um mercado importante para nós, e é muito conhecido também no Brasil, onde temos uma quota interessante. Além disso, quando trazemos um designer com este perfil para criar uma máquina que vai ter um preço de venda de 279 euros – uma diferença grande para o preço médio das máquina de café, que ronda os 40 euros –, é porque ela se destina a um consumidor no target classe A, que até aqui, se calhar, escolheria uma máquina da concorrência. Passamos a ter também para eles uma oferta muito diferenciadora.

O designer francês usou uma expressão religiosa para justificar o design da nova máquina: chamou-lhe “um glorificador de café”. Como o café sai de baixo para cima e o copo está no topo, é como se a chávena estivesse depositada no cimo de um altar.

E uma peça de design.

Sim. É claramente uma máquina de café que não se destina à cozinha. O Philippe Starck desenhou até uma tampa para se colocar por cima. Deixa de parecer uma máquina de café. Ele disse que as pessoas talvez até percam a tampa, mas que tínhamos de a fazer. A RISE Delta Q with Starck é um objeto que merece estar na sala – eu tenho-a na minha, num móvel ao lado da mesa de jantar.